“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Coríntios 6:12
Todos que assistiram ao episódio passado de um importante programa culinário brasileiro – onde pessoas comuns, que cozinham bem, disputam uma vaga para serem um chef de cozinha profissional – se depararam com uma situação bastante incômoda e antiética.
No episódio em questão vinte pessoas foram divididas em dois grupos e cada grupo tinha que preparar um cardápio com entrada, prato principal e sobremesa para convidados.
Bom, resumidamente, uma das equipes ao buscar os ingredientes no mercadinho, montado pela produção, resolveu pegar para ela todos os tomates e farinha. E o fez não só para usar esses ingredientes em suas receitas, mas também para prejudicar a outra equipe.
Logo, ao ver a falta de produtos essenciais, do ponto de vista culinário, a equipe prejudicada acabou tendo que reordenar todo o cardápio, o que a levou, ironicamente, à vitória.
O roubo dos tomates e outros ingredientes ficou em minha cabeça desde então. Será que a ética nos dias atuais foi varrida para baixo do tapete? A equipe “ladra” não pareceu sentir vergonha pelo que fez. Justificou o fato pela ideia de que estava ali para vencer. Mas vale mesmo tudo pela vitória?
Antes de qualquer coisa preciso dizer que, diferente do que muitos pensam, a ocasião não faz o ladrão. O ladrão escolhe sê-lo antes que a oportunidade apareça. Dessa forma, a ideia de que dentro do jogo tudo vale, não é justificável.
Eu diria que a ética está diretamente atrelada aos nossos valores e a nossa capacidade de ter empatia. Quando empático, eu não faço com o outro o que não gostaria que ele fizesse comigo. Tanto a empatia quanto a ética apontam para questões universais que zelam pelo todo. A ética busca, acima de tudo, a melhoria da convivência entre as pessoas. Dessa forma é possível notar que não houve ética alguma no roubo dos ingredientes.
Imaginem o que aconteceria se todos os participantes começassem a fazer individualmente o mesmo que foi feito pela equipe antiética? Se, no próximo programa, cada um fosse até o mercadinho e pegasse para si todos os ingredientes que os outros participantes iriam precisar? Certamente o jogo acabaria amanhã. A falta de ética, empatia e valores provoca um colapso social e causa prejuízo a todos. Em um ambiente antiético a convivência torna-se inviável.
Em 2012 o mundo conheceu um competidor ético, o espanhol Ivan Fernandes Anaya. Em uma corrida Fernandes empurrou o primeiro colocado até a linha de chegada ao perceber que o adversário tinha se confundido no final do percurso. Ao ser indagado sobre a razão de ter feito aquilo, quando poderia vencer, ele respondeu: “Qual seria o mérito da minha vitória se eu ganhasse dessa forma?”
O jogo só continua porque existem aqueles que entenderam a dinâmica da vida antes de sacarem a dinâmica do jogo. É arrogância querer prejudicar o outro para vencer. No fim das contas vence mesmo aqueles que dão o seu melhor sem causar o pior ao outro. Vence aqueles que de noite colocam a cabeça no travesseiro e dormem em paz sabendo que aquilo que queriam era o que deviam e podiam.
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