Não é nada fácil descobrir que alguém é falso. Afinal de contas, a falsidade requer um alto grau de simulação espontânea. Os falsos são super habilidosos para dissimular o que sentem. Os falsos são gentis à sua maneira. Os falsos dizem exatamente aquilo que esperamos ouvir.
Detectar a falsidade exige de nós muito foco; e, em geral as presas fáceis dos falsos costumam ser pessoas distraídas, desatentas, desfocadas.
É nos momentos de distração e entrega que acabamos caindo nas redes da falsidade. Muitas vezes acreditamos mesmo que a maldade que estamos supondo ver está em nossas mentes, na nossa mania de achar que temos “aquele sexto sentido torto”; e que, por isso, aquela atitude maldosa só pode ser uma fantasia.
Nesse momento, embora não saibamos, estamos dando de bandeja ao outro as chaves dos nossos sonhos, das nossas fraquezas, das nossas ilusões. Damos corda, e mais corda e mais corda. E, quando já nos encontramos enlaçados, sofremos o golpe.
Não são raras as histórias de melhores amigos ou amigas que puxaram o tapete sobre pezinhos desavisados. Não são raras as situações em que vemos nossos segredos mais secretos espalhados ao vento e ficamos aturdidos, tentando descobrir de onde é que veio o vazamento.
No entanto, verdade seja dita, não há algoz, vilão ou carrasco, caso não haja uma vítima disponível. Não há história mal contada que vingue, se não houver aquele que ofereceu o enredo de mão beijada, a quem não se devia confiar uma única linha da trama.
Vítimas existem, até a página dois. Porque, em geral, no final da página um, os maus já começam a dar pistas de suas intenções. E, se não as vimos foi porque escolhemos tapar os olhos para as evidências.
Não é à toa que haja tanta falsidade no mundo. Falsidade é erva daninha que aceita de bom grado as tempestades porque sabe esperar pacientemente pela luz e o calor do tempo que farão as sementes de confiança brotarem. Brotarem, crescerem e tomarem tudo.
O segredo é aprender a olhar além; reconhecer nas bocas dissimuladas aquilo que elas escolhem habilmente não dizer. O segredo é olhar nos olhos; os olhos entregam intenções escusas, porque brilham quando deveriam calar e usam da opacidade para ocultar o prazer de destruir.
O segredo é dar corda… quem for do bem, vai fazer um laço, e quem for do mal, vai acabar se enforcando, mais dia menos dia. Só resta aprender direitinho a calcular o comprimento da corda, porque sempre haverá o risco de que ela acabe sendo suficiente para levar junto o nosso querido pescocinho.
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