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O silêncio em doses: uma forma de manipulação

O silêncio em doses pode ser uma forma, como muitas outras, de agressão passiva. Ela se define como um controle calculado da comunicação na qual o silêncio desempenha um papel fundamental e tem como objetivo controlar e enfraquecer a outra pessoa ou a sua posição. Nem sempre se manipula através das palavras. A manipulação também ocorre por meio dos silêncios. Essa última estratégia é muito prejudicial por utilizar uma máscara mais camaleônica.

É chamada de silêncio em doses porque não é constante, como acontece quando alguém o ignora ou para de falar com você. Nesse tipo de manipulação, mistura-se o encontro com o desencontro, a expressão e a falta dela. Tudo isso acontece de maneira arbitrária. É o manipulador que decide o ritmo da comunicação na busca do seu interesse para quem o outro é apenas um instrumento.

Como o silêncio é uma forma de expressão que se mostra muito ambígua, o mais comum é que a vítima se sinta bastante confusa ou angustiada. Ela não sabe o que pensar e gasta muito tempo, além de energia emocional, tentando adivinhar o que cada silêncio quer dizer. Ela se sente insegura e hesita antes de dar qualquer passo. Muitas vezes, acaba pensando que é ela quem tem um problema, ou que não sabe interpretar ou dá uma importância exagerada aos silêncios.

Como o silêncio em doses se manifesta?

O silêncio em doses se manifesta de muitas maneiras. Uma bastante comum acontece quando o manipulador tenta fazer você falar primeiro sobre tudo. Não é uma cortesia. A pessoa deixa você falar para sondar sua vida, para obter informações sobre você e estudar a situação. Por outro lado, cuidado, nem todo mundo que deixa você falar primeiro está te manipulando. Para se caracterizar como manipulação, é preciso que esse comportamento seja frequente ou constante, intencionado, e que não seja correspondido. Essa pessoa vai falar pouco sobre si mesma ou o fará sendo evasiva.

Outra forma por meio da qual o silêncio em doses se apresenta é quando alguém quebra a comunicação subitamente e, em seguida, a retoma inesperadamente também. Quando ela para de responder ligações ou mensagens sem dar nenhuma explicação. Depois de um tempo, a pessoa aparece como se nada tivesse acontecido. E se você perguntar quais os motivos do distanciamento, a pessoa dirá que não aconteceu nada, que foi uma impressão equivocada sua.

Do mesmo modo, o silêncio em doses aparece quando se impõe uma espécie de censura sobre certos temas, sem explicação. Quando você tenta conversar sobre isso, a pessoa simplesmente foge do assunto ou se nega a dar detalhes. Isso, com certeza, se aplica a assuntos importantes para ambas as partes. O ruim não é uma pessoa não querer falar sobre alguma coisa em particular, mas o fato de ser sistemática e não dar nenhuma explicação sobre sua atitude, sabendo que esta afeta a outra pessoa.

Finalmente, outra forma bastante comum de silêncio em doses é não falar alguma coisa porque, supostamente, não saber seria melhor para o outro. Essa estratégia se aplica a assuntos que dizem respeito exatamente a esse alguém de quem se está ocultando a informação.


A palavra é poder e o silêncio também

O que distingue um silêncio manipulador de um silêncio espontâneo é o propósito. Quem recorre a essa estratégia de se esconder na ausência de palavras a utiliza com o objetivo de controlar o outro. A pessoa sabe que provoca uma incerteza, que projeta insegurança, e é exatamente isso que ela busca. Ao se esconder no silêncio, a pessoa deixa o outro sem ferramentas para agir em igualdade de condições.

Não se deve confundir o silêncio manipulador com a timidez. Nem todo mundo tem facilidade para se comunicar espontaneamente. Há pessoas que precisam de tempo e compreensão para expressar o que pensam e sentem. Elas não falam por causa da timidez ou falta de confiança. No entanto, seu objetivo não é controlar as outras pessoas, mas se proteger.

O silêncio em doses se diferencia pelo efeito que provoca na outra pessoa. É alternado com uma comunicação aparentemente “normal”. É uma ausência de palavras que dá a sensação de estar escondendo alguma coisa. Como é sutil, essa estratégia dificilmente pode ser confrontada, sob pena de quem a confronta ser acusado de paranoico ou fantasioso. Contudo, por mais sutil que seja, provoca muito dano em um relacionamento e, especialmente, na pessoa que é objeto dessa prática.

Esse tipo de silêncio pode ser extremamente agressivo principalmente porque mergulha a comunicação em um terreno lamacento. Os mal-entendidos e as suposições viram rotineiros. E o abuso como tal dificilmente aparece claramente, exceto por seus efeitos. Se o outro, depois de você ter mostrado sua atitude, não parar de usar essa prática tão tóxica, não resta outra saída senão uma negação direta e explícita, além, é claro, do afastamento.

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__Texto publicado originalmente em A Mente É Maravilhosa

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