Por Josie Conti
A tendência à repetição é um conceito psicanalítico que descreve como, através da quantidade e do contato com situações familiares, a pessoa direciona suas questãos mal resolvidas. É como se, apesar de ainda não existir a resolução do problema que gera a atração pelo tema, a pessoa obtivesse uma resposta de conforto por reencontrar situações similares as que já passou em outras fases de sua vida.
Vemos muito disso, falando à grosso modo, em situações cotidianas como em caso de filhos de pais alcoólatras que também escolhem parceiros que tem problemas com álcool para se relacionar ou mesmo pessoas que, mesmo tendo passado por diversos problemas decorrentes de um comportamento, continuam a repeti-lo ininterruptamente.
É como se situações repetidas, mesmo que algumas vezes perigosas, passassem a segurança do que é familiar, daquilo que já foi vivido e do que a pessoa entende ser merecedora. Essas repetições tornam-se quase espelhos da própria pessoa e de como ela se vê.
É importante ressaltar que a repetição do comportamente foge a plena consciência e que, muitas vezes, mesmo sabendo que os caminhos trilhados não são bons, a pessoa não consegue deixar de repeti-los.
E aqui entramos em contato com o grande segredo do sucesso de toda a literatura de autoajuda existente na internet e nas livrarias: sua promessa de respostas simples para situações que as pessoas percebem erradas em si, querem mudar, pois sofrem com elas, mas que não conseguem alterar na prática. Surge, então, um livro que fala de seu problema e não só promete a resolução, mas fornece uma lista para que a pessoa, passo a passo, realize as mudanças necessárias e liberte-se do que a incomoda para sempre. É um verdadeiro conto de fadas.
Se nós pensarmos sem preconceito no conteúdo dos livros de autoajuda veremos que, na maioria das vezes, eles trazem mensagens boas e positivas, são temas agradáveis e, por que não dizer, também familiares e com os quais crescemos tendo algum tipo de contato. Eles falam de valores, de relacionamentos, de autonomia, organização, limites, entre milhares de outras coisas. Não há nada, absolutamente nada de mal nisso. A falácia está contida na promessa de uma solução que vem “de fora para dentro” quando, na verdade, toda e qualquer mudança pessoal real e duradora na vida de uma pessoa só pode acontecer se for fruto de uma decisão pessoal.
Eu não exorcizo e nem sou contra os livros de autoajuda como muitos o fazem- muitas vezes até em uma postura intelectualmente arrogante. Acredito, inclusive, que até mesmo um material simples como uma lista ou livrinho comum pode ser gatilho transformador de vidas. Um olhar pode ser!
Quem somos nós para julgar qual é o momento exato que uma pessoa terá para perceber qual é a melhor coisa para si mesma? Agora, como em tudo na vida, fica o convite para que tenhamos senso crítico para com as repetições e, se existe um consumo compulsivo de uma literatura mais rasa e que promete respostas miraculosas, talvez esse seja o sinal de que é necessário um pouco mais de profundidade. E, ao contrário do que pode indicar essa linha de raciocínio, na maioria das vezes, essa profundidade também não será encontrada em “literatura” tida como superior.
Há demandas que só encontram respostas na construção de novos caminhos. Caminhos que não são externos. São aqueles trilhados dentro de si.
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