Essa coisa de amor à primeira vista sempre me fascinou. Desde os tempos em que a minha leitura favorita era os contos de fada, me impressionava aquele primeiro encontro em que o tal do príncipe via a princesa e, imediatamente, sabia ser ela o amor da sua vida. A gente nem virava a página e já estavam eles, assim, apaixonados.

Nos filmes que eu via isso também era lugar comum e não posso negar que aquelas histórias me encantaram e ajudaram a construir a minha parcela deste imaginário feminino que faz com que a gente espere sempre, mesmo sem querer, o famigerado príncipe encantado.

Pior que isso, tantas informações equivocadas, veiculadas pelos contos de fada e pelos filmes água com açúcar que adoramos assistir na adolescência, nos fazem acreditar que não só encontraremos o tal príncipe, logo ali , pronto, mas que seremos capazes de transformar sapos em príncipes e, isso tudo, só com um beijinho sequer. Ah , o poder transformador do amor…

E seguimos assim, acreditando que todo aquele que chega até nós, é, sem dúvida alguma, o nosso príncipe. Nem que pra isso tenhamos que mudar o seu mau gosto escancarado para se vestir, o gosto musical duvidoso, a falta de hábito de leitura, aquele dançar desengonçado, fora alguns arrobos de total falta de educação, mas que nós, detentoras do infinito poder transformador do amor, seremos capazes de modificar com a mesma facilidade que é fazer abóboras virarem carruagens.

Por tudo isso,  estou mesmo convencida de que existe o tal do amor à primeira vista. Pois ao segundo olhar, mais detalhado e atento, toda essa paixão cairia por terra em menos de dois capítulos ou cenas. Acontece que a gente vê aquilo que deseja e é por este desejo que nos apaixonamos, assim num primeiro momento, numa olhadela rápida, focada naquilo que a gente quer ver.   O tempo, senhor da verdade, se encarrega de nos devolver a sanidade e nos mostrar quem o outro é de fato e lá se vai, ladeira abaixo, o tal do amor à primeira vista. Mas ainda assim é possível que algo bom e mais duradouro permaneça. Desde que você esteja disposta a aceitar o outro  da maneira que ele é, com tantas imperfeições quanto você e na mesma busca pelo encontro consigo mesmo, só possível quando há aceitação.

Então, esquece isso de amor à primeira vista e dê um bom e atento segundo olhar, que pode trazer algumas decepções, mas , ao menos será mais verdadeiro. Sem essa de querer transformar sapos em príncipes, o que, além de muito trabalhoso e desgastante, é coisa de fada madrinha. E, fada madrinha, pelo menos até onde eu sei, nunca chegou ao final da história com um grande amor e a legenda “viveram felizes para sempre”.

Imagem de capa: Reprodução

Adriane Sabroza

Psicoterapeuta por paixão e opção, mãe de três meninas lindas, minha maior realização e, nas horas vagas, aprendiz de escritora, sem nenhuma pretensão.

Recent Posts

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

9 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

18 horas ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

19 horas ago

Marcelo Rubens Paiva fala sobre Fernanda Torres no Oscar: “Se ganhar, será um milagre”

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…

1 dia ago

Série que acaba de estrear causa comoção entre os assinantes da Netflix: “Me acabei de chorar”

A produção, que conta com 8 episódios primorosos, já é uma das 10 mais vistas…

2 dias ago

Além de ‘Ainda Estou Aqui’: Fernanda Torres brilha em outro filme de Walter Salles que está na Netflix

A Abracine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considera este um dos 50 melhores filmes…

2 dias ago