Por Letícia Maia

A necessidade de liberdade – acompanhada do medo da liberdade do outro.

A insegurança de se entregar – acompanhada pelo desejo de total entrega do outro.

A necessidade de tranquilidade – acompanhada de uma constante expectativa em relação ao outro.

Essas são apenas algumas das diversas dualidades que as atuais relações humanas contemplam. Todos esses conflitos mentais – que em sua maioria não têm reais fundamentos – geram inquietações e decepções incessantes nos relacionamentos modernos.

“A modernidade líquida em que vivemos traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços humanos – um amor líquido. A insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitantes de estreitar esses laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos.”, afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

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Desapaixonar-se se tornou tão fugaz quanto apaixonar-se. Afinal, são tantas as opções que os meios tecnológicos me dispõem! Enquanto eu mantenho uma conversa com aquela pessoa no whatsapp, troco mensagens pelo facebook com outra. Espero ansiosamente por uma resposta rápida, mas caso nenhuma me corresponda, ainda tenho aquela outra pessoa com quem estou trocando SMS’s…

A superficialidade das relações humanas gerou um conjunto de laços e indivíduos “descartáveis”. Se algo não está bom: descarta! Mas o que nunca vem à nossa mente é que o caçador também pode se tonar caça. Lidar com diversas pessoas descartáveis o torna, da mesma maneira, descartável. É o que Bauman chama de “amor líquido”.

“É um amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. Na sua forma ‘líquida’, o amor tenta trocar a qualidade por quantidade – mas isso nunca pode ser feito. É o amor um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele.”.

Estas relações são reflexos da sociedade em que vivemos e não podemos anular ou ignorar este fato. Mas podemos – e devemos – passar por uma espécie de consciente introspecção e reavaliar nossos comportamentos e atitudes. Recuperar aspectos positivos de tempos passados não é necessário, mas redefinir valores hodiernos e colocá-los em prática já é um bom começo para fortalecermos possíveis vínculos sociais.

Referência: BAUMAN, Zygmunt. “Amor líquido”, Zahar; 2009.

Nota da CONTI outra: agradecemos à Letícia Maia por nos enviar esse lindo texto e autorizar a publicação nesse local.
Letícia Maia estuda Ciências Sociais com bacharelado em Antropologia pela Universidade de Brasília.

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