A expressão pandemônio é de origem inglesa “pandemonium”, que significa tumulto, balbúrdia e confusão, ou seja, são palavras reproduzidas nos discursos de negação, de negacionismo e obscurantismo.
A negação é um mecanismo de defesa que leva as pessoas, inconscientemente, a evitar a realidade em que vivem. Em termos psicanalíticos, a negação é um fenômeno típico de indivíduos que não querem lidar com situações que geram incertezas.
A ideia de negação foi definida por Freud, como um mecanismo psicológico, que tem a finalidade de reduzir qualquer manifestação que coloque em perigo a integridade do ego dos sujeitos, que não conseguem enfrentar os fatos que julgam ameaçadores.
O mecanismo de negação é ineficaz, pois simplesmente nega os acontecimentos à base de mentiras, que angustiam os que criam uma realidade fictícia. Por conseguinte, eles preocupam as suas famílias, os seus colegas de trabalho e as suas comunidades, prejudicando o desenvolvimento da vida social.
A origem da negação é a angústia, que se recusa em reconhecer que um problema está ocorrendo. Os indivíduos afetados agem como se nada tivesse acontecido, se comportando de maneira confusa, que são vistos pelos outros como criaturas insensatas.
Em geral, o mecanismo de defesa se manifesta de forma inconsciente, mas existem elementos conscientes que fazem algumas pessoas ignorarem os eventos desconfortáveis, como doenças, mortes, traições, abusos e trapaças. Entretanto, elas podem causar um alto custo socioemocional a si mesmas e aos demais.
Esse custo se traduz na prepotência, pela qual as criaturas têm respostas aos fatos e nenhuma pergunta. E por meio da intolerância, que elas tentam esconder a realidade, e para tanto, se utilizam do ponto de vista sociológico do negacionismo e do obscurantismo.
O negacionismo, vocábulo que vem do francês “négationnisme”, que é a escolha de rejeitar a verdade factual. Na ciência, o negacionismo é caracterizado pelo desdém aos dados relevantes sobre um assunto e pelo desprezo aos conceitos incontestáveis que são apoiados por consenso científico.
Aliás, o negacionismo é provocado por interesses religiosos, políticos e econômicos. É como afirmou o satirista Karl Kraus: “O segredo do demagogo é se fazer passar por tão estúpido quanto sua plateia, para que esta se imagine ser tão esperta quanto ele”. Assim, fica mais fácil negar o aquecimento global, o Holocausto, que a terra é redonda, o uso de vacinas e agora o coronavírus.
Nesse trio está o obscurantismo que deriva do latim “obscurans”, que é um estado de quem se acha na escuridão e de quem possui a tendência política de dificultar o acesso do povo à ciência, a cultura e arte, no sentido de explorar as suas crendices e superstições.
Enfim, o trio do pandemônio e seus seguidores usam o terreno movediço das redes sociais para negar a letalidade da COVID-19, criando fakes news e teorias da conspiração. Porém, podemos seguir a dica do escritor Mark Twain: “Nunca discutas com um idiota. Ele arrasta-te até ao nível dele, e depois vence-te em experiência.”
Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
Ilustração de capa:Ilustração: Daniel Medina
Ouça também o nosso podcast sobre o tema: Por que hoje o negacionismo fala tão alto quanto a razão?