Por Nara Rúbia Ribeiro
O amor, quando decide nascer, escolhe o solo que bem quiser. Foi assim que um jovem guerreiro se apaixonou pela esposa do grande cacique. E por mais que lutasse internamente contra o sentimento, ele floria e já em breve, temia o guerreiro, o amor se faria a todos notar.
O guerreiro decidiu pedir a Tupã uma dádiva. Ele desejou ser transformado em um pássaro.
Tupã, compreendo a alma apaixonada do jovem, fez o que lhe fora pedido. O guerreiro, assim, num repente, ganhou penas, bico, asas: vermelho, todo vermelho-telha (o Uirapuru)!
E o pássaro dedicou-se, todas as noites, a cantar para a sua amada. Mas mesmo quando entregamos o nosso melhor afeto, mesmo enfeitado de pássaro, mesmo enleado nas mais belas melodias, muitas vezes o outro coração é só despreparo.
O canto do guerreiro-pássaro não foi percebido pelos ouvidos da amada. E, por uma ironia maior, quem enamorou-se do seu canto foi o cacique, que decidiu aprisionar a ave para que cantasse só para si.
Ameaçado, o guerreiro-pássaro voa para lugares longínquos da floresta e, perseguido pelo cacique, faz com que este se perca e nunca mais volte à tribo.
E é assim que o Uirapuru, todas as noites, retorna à tribo e canta as mais belas melodias para alegrar a alma solitária da mulher que lhe é a mais cara. E, ao fim de cada noite, retorna, solitário e vencido, para o seio das matas, pois os ouvidos da amada continuam despreparados para o seu canto de amor.
Leia outras lendas em: Recontando as Lendas Brasileiras
Abaixo, o “Canto do Uirapuru”
Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra
Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
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