Dizer não é um negócio muitas vezes complicado. Pelo menos para mim. Tem aquela coisa de decepcionar, frustrar alguma expectativa, fechar uma porta, um ouvido, uma relação.
Dizer não é romper com uma ideia, desistir de um plano, sequer considerar uma possibilidade. É apontar o sim para outra direção, virar os motores para apreciar outro horizonte. Dependendo de quem estiver na reta do não, eu sofro. Sofro mais de dizer um não do que levar um não para casa.
Coisas da vida, os nãos necessários e muitas vezes indispensáveis. Para criar um filho, se diz muito não; Para barrar uma criatura espaçosa, se repete mil vezes não; Para conter uma atitude anunciada de arrependimento, se diz a si mesmo: Não!
Mas o não, embora não pareça, tem um lado, sim, positivo e libertador!
O não fortalece e empodera quem se apropria dele com justiça.
O não autêntico machuca infinitamente menos do que um sim leviano ou um talvez indiferente.
O exercício de dizer e receber os nãos da vida é de puro fortalecimento. É uma conquista de extremo valor, e acaba de vez com as manhas e mimos que a gente insiste em trazer da infância, onde a birra e o choro resolviam a maioria das dificuldades. O adulto mimado e que não sabe ser contrariado é uma criança velha que ainda esperneia a cada não que lhe atinge.
Dizer não é fantástico! Opinar sobre o que não agrada, recusar o que não convém, declinar, desistir, mudar de ideia, ser tão espontâneo quanto a educação e o convívio social recomendam. Afinal, negar ou recusar algo não é motivo para trazer de carona uma grosseria.
Receber e acatar um não é respeitar a vontade alheia, entender que as vontades e ideias não se tocaram, não houve afinidade, sem se preocupar com intenção ou falta dela. Receber e digerir, essa é a parte que interessa. Ao outro, fica a responsabilidade que o motivou.
Por essas e por outras, se me perguntam se topo dizer um sim mentiroso a contrariar um afeto, respondo sem culpa alguma: Obrigada, mas não, obrigada!
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