Por Matheus Mans Dametto
2015 foi um ano curioso para o cinema. Pense nos maiores sucessos. Pensou? Como deve ter notado, as maiores bilheterias foram reboots ou sequências. Jurassic World, Velozes e Furiosos 7, Star Wars – O Despertar da Força, Mad Max: Estrada da Fúria, Jogos Vorazes, Os Vingadores, Minions, Cinderela…
Entretanto, muita coisa boa e original foi feita. Não só nos EUA, como no Brasil e, principalmente, na Europa. A cena independente, como sempre, conseguiu produzir pérolas e, algumas delas, devem até entrar para a história recente do cinema.
Confira, a seguir, os melhores destes ótimos filmes, mas que não possuem o mesmo impacto, audiência e divulgação do que aqueles citados no começo deste texto.
Cinema argentino da melhor qualidade. Conta a vida dos Puccio, uma família de classe média que ganha dinheiro sequestrando pessoas. A surpreendente história real conta com atuações inspiradas de Guilhermo Francella (O Segredo dos seus Olhos), que interpreta Arquimedes, pai da família e mentor dos crimes; e de Juan Pedro Lanzani, ator da novela Chiquititas original e que faz o atormentado filho e cúmplice de Arquimedes. Além da ótima trilha sonora, a direção de Pablo Trapero (Elefante Branco) é certeira, com planos-sequência de ótima execução. Apesar de ter sido uma das maiores bilheterias da história da argentina, O Clã foi pouquíssimo divulgado no Brasil.
Apesar de ter atores que estão em alta e contar com uma indicação ao Globo de Ouro, Ex Machina fez bem menos barulho do que merecia. Conta a história de Caleb (o ótimo Domhnall Gleeson), um funcionário de uma empresa de tecnologia – como um Google ou Facebook – que ganha como prêmio pelo seu trabalho uma semana na casa do seu estranho chefe, Nathan (Oscar Isaac). Lá, o jovem Caleb descobre que o chefe desenvolveu uma robô muito parecida com um ser humano, a bela Ava (Alicia Vikander). Agora, ele precisa decifrar as intenções da máquina. Excepcional roteiro, com um desfecho incrível. Compartilha com Blade Runner o posto de melhor filme sobre inteligência artificial.
Na década de 60, o psicólogo Stanley Milgram (Peter Sarsgaard) se tornou conhecido pelos seus experimentos de obediência. Ele fazia o seguinte: pessoas comuns eram levadas a dar dolorosos choques elétricos em outras pessoas, mesmo quando escutavam gritos de dor. Só que, na verdade, choque nenhum era aplicado. Era só uma experiência para ver até onde chega a maldade das pessoas quando recebem ordens. O resultado é incrível e o filme mais ainda. Apesar do ritmo lento e da repetição constante de acontecimentos, a história é interessante e conta com atuações inspiradas de Sarsgaard e de Winona Ryder, que interpreta a namorada de Milgram.
Se for parar para pensar, a história contata por Boychoir é uma falácia. Vou explicar: o filme conta a história de um garoto (o excelente Garrett Wareing) órfão de mãe e abandonado pelo pai que é aceito no coral da American Boychoir School, a mais conceituada escola para canto dos EUA. Lá, ele começa a receber os ensinamentos do maestro Carvelle (Dustin Hoffman), apesar dos problemas que enfrenta com os outros alunos. Boa história, com excelentes interpretações e uma direção firme de François Girard (O Violino Vermelho). O único problema, como disse no começo, é que a escola, no mundo real, era palco de abusos psicológicos gravíssimos praticados contra os garotos. Foi um escândalo. Mas, se o espectador entrar na história sem se preocupar com a verossimilhança com a realidade, o filme é um deleite.
Quando comecei a ver Love & Mercy não esperava nada. Mas o filme é uma das maiores pérolas do ano. Sem cair na pieguice das biografias musicais, o filme conta a história de Brian Wilson, o atormentado fundador do grupo Beach Boys. Paul Dano (Os Suspeitos) e John Cusack (Mapa para as Estrelas) interpretam Wilson jovem e um pouco mais velho, respectivamente, e dão um show. O elenco, que ainda tem o excelente Paul Giamatti (12 anos de escravidão) e Elizabeth Banks (Jogos Vorazes), está afinadíssimo. Destaque, ainda, para a trilha sonora nostálgica e para a ótima direção de Bill Pohlad (Livre), que consegue manter o ritmo do drama-biografia-musical, sem se confundir com os gêneros.
Assim como 2014 teve o Babadook, 2015 também tem uma ótima surpresa no gênero de terror. Goodnight Mommy começa com dois gêmeos esperando o retorno da mãe de uma cirurgia plástica. Quando ela volta, o rosto está coberto de ataduras e as atitudes ficam cada vez mais suspeitas. Aí surge a dúvida das crianças: será que esta mulher, com as ataduras no rosto, é a nossa mãe? Terror de primeiríssima qualidade e com ótimas atuações de Elias e Lukas Shwarz, os gêmeos. Destaque para o final, que tem uma reviravolta incrível.
Apesar de ter inúmeros problemas de roteiro e direção, o último filme de Robin Williams é de uma sensibilidade ímpar e pouco vista no cinema atual. A história é sobre Nolan Mack (Robin Williams), funcionário de um banco há 26 anos e que tem uma rotina que nunca muda. O seu casamento com Joy (Kathy Baker), então, acaba virando algo mentiroso e de pura conveniência. As coisas começam a mudar, entretanto, quando Nolan cruza com o jovem problemático Leo (Roberto Aguire), com quem começa a ter uma relação delicada e sensível. Atuação memorável de Robin Williams, que conseguiu entregar um último papel marcante.
Al Pacino, nos últimos anos, só decepciona os fãs. Afinal, quem diria que o ator deScarface faria um filme como Cada um tem a gêmea que merece? Sem dúvidas, Não olhe para trás não irá agradar os fãs dos filmes mais violentos do ator, mas é um bom passatempo. Neste longa, Al Pacino interpreta um cantor de sucesso e que vive há mais de 30 anos sem compor. A vida dele, então, é uma rotina de drogas e excessos. Até que um dia ele descobre uma carta que John Lennon escreveu para ele há décadas, mas que nunca tinha chegado às suas mãos. Inspirado pelas palavras do músico, Danny (Bobby Cannavale) decide interromper a carreira e tentar reatar com o filho já adulto, que ele nunca conheceu. Apesar de situações clichês e um final manjado, o filme consegue convencer e até emocionar. Destaque para a atuação de Al Pacino, que é sem excessos, e para a trilha sonora, grudenta e muito bem escrita.
Muita gente vai começar a ver esse filme e desistir em 10 minutos. Para se ter uma ideia: em alguns momentos, achei que o longa tinha travado, de tão parado que estava. Em tese, o filme — que é baseado na imagem de uma pintura — acompanha a saga de dois vendedores ambulantes, que passam pelas mais diversas situações para tentarem vender algumas de suas bugigangas. Ao longa da história, que é recheada de cenas nonsense, a vida dos dois vai mostrando um pouquinho da realidade do ser humano. Estranho, perturbador e sensível, Um pombo pousou num galho refletindo sobre sua existência vai ficar em sua mente por um bom tempo (mesmo que você não entenda). Destaque ainda para a direção de Roy Andersson, que dirigiu o também estranho e excelente Vocês, os Vivos.
Numa definição rápida e simplista: um filme de faroeste com canibais. Não achou incrível? Mais um pouco: Kurt Russell (o “novo” ídolo cult do cinema) é o xerife da cidade, que terá que combater a tribo, que sequestrou alguns moradores. Ainda não está convencido? Para concluir, então: Russell só terá a ajuda de três pessoas para derrotar os nativos. Um idoso (o excepcional Richard Jenkins), um maluco (Matthew Fox) e um homem ferido (Patrick Wilson). Filme divertidíssimo, com cenas pesadas de canibalismo e que reinventa o faroeste da melhor maneira possível.
Filme brasileiro e que foi esnobado por muitas pessoas. Livremente inspirado no livroAmor Líquido, do Bauman, o filme conta a história de Bruno (Caio Blat) e Amanda (Leticia Colin), que se conhecem durante um voo. Ela, de São Paulo. Ele, do Rio. E assim, com a distância, a paixão dos dois vai sendo consumida pela dificuldade em se manter um relacionamento hoje em dia, quando todos querem que tudo aconteça imediatamente. Relato extremamente atual, o filme é delicado e singelo — em um bom sentido. Lembra muito Loucamente Apaixonados, com a Felicity Jones, mas com uma pitada brasileira.
Gemma Bovery (a belíssima e ótima Gemma Arterton) é uma inglesa que se muda com o marido para uma pequena cidade francesa, após sentirem que o casamento dos dois precisava de novos ares. Do outro lado da rua do casal, mora Martin Joubert (o incrível Fabrice Luchini) e sua esposa, um casal que foi morar na pequena cidade procurando fugir do caos de Paris. Após conhecer os novos vizinhos, entretanto, Martin fica totalmente encantado com a beleza de Gemma, fazendo com que ele fique obcecado pela vida dos vizinhos. Divertidíssimo e muito bem dirigido por Anne Fontaine, o filme é um deleite – seja pela fotografia, pela roteiro ou pelas atuações.
Quem diria que o Boyhood brasileiro seria tão bom? Depois de passar 20 anos filmando, Guilherme Fontes lançou o mítico Chatô, o Rei do Brasil, longa que conta a história de Assis Chateaubriand, o primeiro magnata das comunicações brasileiras. Divertido e original, a história é contada sob o ponto de vista do empresário, que está delirando. Destaque ainda para as ótimas atuações de Andréa Beltrão e Marco Ricca.
Passado apenas em um único cenário, Cyberbully acompanha momentos tensos da vida de uma adolescente britânica, que é forçada a atender os pedidos de um hacker que invade seu computador. Se ela recusar, ele promete divulgar fotos comprometedoras nas redes sociais. Com a ótima e madura atuação de Maisie Williams (a Arya, de Game of Thrones), o filme consegue ser tenso e desesperador na medida certa. Surpreende.
Mais uma daquelas pérolas que só são encontradas nos filmes franceses. Charlie (Joséphine Japy) tem 17 anos e é uma típica adolescente de classe média. Tudo vai bem até que uma nova garota, Sarah (Lou de Laage) entra em sua escola. As duas se sentem atraídas e começam a trocar intimidades, segredos e revelações. A amizade das duas vai bem, até que o relacionamento delas começa subitamente a mudar. Filme muito bem dirigido, com atuações espetaculares e um final de tirar o fôlego.
Típica comédia francesa. O casal Verneuils tem quatro filhas. Católicos conservadores, eles são viam um futuro para elas: se casar com outros rapazes católicos. Só que as coisas acabam tomando um outro rumo e três delas se casam com homens de outras religiões. As coisas só começam a melhorar para o casal quando a quarta filha anuncia o casamento com um rapaz católico. Só que, como toda comédia francesas, várias reviravoltas vão surgir na ótima trama que, apesar de alguns exageros, diverte.
Fonte indicada: Literatortura
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