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Os anos dourados da adolescência e a beleza do amadurecimento

O tempo passa mesmo depressa. Esses dias, peguei-me pensando que já faz um bom tempo que saí da escola e ganhei o título de adulto. Título difícil de ostentar. Quando a gente é criança, a coisa que mais quer é ser adulto. Até mesmo na adolescência, queremos ser adultos, a fim de nos livrarmos de dar explicações a nossos pais. Queremos ser livres, fazer o que der na telha. Mas, quando essa hora chega, percebemos que ser adulto é muito mais difícil do que se pensa.

Nós temos tantas expectativas quando somos adolescentes. Queremos conhecer lugares, imaginamos nossas vidas profissionais, logicamente, bem sucedidos. Tudo parece simples e palpável. As dificuldades parecem não existir diante do nosso entusiasmo. É, mas o tempo passa e, junto com ele, vem o amadurecimento. Este é doloroso. O mundo colorido da adolescência cai e dá lugar às escuridões que a vida adulta traz. A bem da verdade, tudo já estava lá, apenas não percebemos.

Quando passamos a olhar o mundo sem a lente de fantasias da adolescência, percebemos que, talvez, nem mesmo nos conhecemos direito e que a grande maioria das coisas que nos cercam, pouco a pouco, vão embora. Os amigos da escola tomam rumos diferentes, vão em busca dos seus sonhos e adquirem responsabilidades. A falta de tempo e as novas pessoas que entram nas nossas vidas fazem com que o contato vá diminuindo, até que alguns simplesmente deixem de existir. Quantos amigos inseparáveis, da época da escola, hoje são apenas mais um entre tantos amigos do Facebook?

As festas, as brincadeiras, as horas no MSN, os depoimentos do Orkut, tudo com o tempo foi deixando de existir. Você não acorda na segunda-feira e vai contar como foi o seu fim de semana. Vai trabalhar, produzir, dar lucros. E, no fim do ano, ainda tem que ter paciência para aguentar o “amigo” secreto da firma. Os presentes são melhores, afinal, no mundo dos adultos, ninguém quer passar vergonha na frente dos outros. Mas nada substitui aquele amigo secreto de havaianas, regado a risadas pelos micos alheios, os quais todos se permitem pagar.

A carreira de sucesso, a qual prevíamos, é interrompida, ao percebermos que escolhemos a faculdade errada. E, na maior parte das vezes, não desistimos logo no primeiro ou segundo semestre. Desistimos lá pelo quinto, na metade do curso, o que transforma a vida em um drama digno de Oscar. Percebemos, então, que a vida é muito mais complexa do que imaginávamos e que não temos poder de controle sobre quase nada. Ah! O amor da escola também ficou para trás. Sabe como é, faltava maturidade…

O tempo passa e, junto com ele, ficam as memórias de anos dourados que não voltam mais. Mas a saudade basta, não é preciso saudosismo. Após a adolescência, retornamos para casa e passamos a nos encarar. É somente nesse momento que percebemos que as coisas parecem continuar no mesmo lugar, mas nós mudamos. E isso não é ruim; o amadurecimento, como disse, é um processo doloroso, mas traz a felicidade de sabermos quem somos.

O autoconhecimento traz a tranquilidade de guardar essas memórias felizes em um lugar especial do coração, mas nos permite enxergar que nem tudo era tão bom e, sobretudo, que o que foi bom, foi bom naquele momento. Hoje, outras coisas fazem nossos corações pulsarem e outras águas nos atraem. Tudo tem o seu momento e não é preciso desespero. Talvez, o que falte é um pouco daquele entusiasmo com a vida e acreditar que somos capazes de dar-lhe o tom que quisermos.

Por isso, os anos dourados da adolescência são tão importantes; estes guardam a vitalidade que precisamos ter durante a vida adulta. A coragem para sair de um emprego insuportável, de uma faculdade que não gostamos ou de um relacionamento que apenas afunda. É preciso viver o presente. Deixar a paixão pela vida apenas naqueles anos é suicídio emocional.

A vida é agora e precisa ser vivida. Cada fase por que passamos possui erros, acertos e, desse modo, devemos guardar o que for bom e aprender com os erros que cometemos. A vivacidade da adolescência é mesmo algo fascinante, quase divino, mas existem outras belezas, em muitos casos até melhores. Ser quem se é – o que só é possível com o amadurecimento – é uma das maiores felicidades da vida. Contudo, só crescemos de verdade se guardarmos a capacidade de sonhar, pois ser grande não é apenas se conhecer, mas, acima de tudo, conhecer-se em seus atos. E, para isso, é preciso além de maturidade, coragem e esta só possuímos se tivermos uma pitada da ousadia adolescente.

Erick Morais

"Um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida." Contato: erickwmorais@hotmail.com

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