Por Gustl Rosenkranz

Tenho lido e escutado muito que a faixa etária média do usuário do Facebook tem aumentado. Os mais jovens estão buscando outras redes sociais, enquanto os adultos (pre)dominam cada vez mais. Poderíamos até pensar que esse aumento da idade provocasse então uma elevação do nível de maturidade, mas não é isso que constato. Tenho mais a impressão de estar dentro de um enorme jardim de infância virtual.

Imagine crianças brincando. Elas pegam um cobertor e duas cadeiras, fazem uma “casinha” com isso e supõem que é um castelo. Essas crianças vão levar essa brincadeira a sério e acreditar realmente que estão em um castelo medieval, com rei, rainha, bobo da corte, cavaleiros andantes e tudo que se tem direito. Isso, no mundo das crianças, é algo maravilhoso e útil, pois as crianças precisam da fantasia para se prepararem para a vida real dos adultos. Pois bem, agora imagine pessoas adultas fazendo o mesmo, não com cadeiras e cobertor, mas em um mundo virtual, em uma rede social, como no Facebook: essas pessoas adultas constroem também aqui seu mundo fictício, sua “ilha da fantasia”, expondo aquilo que acreditam ser, identificando-se com os folclores e mitos que acham bons. Até aí tudo bem, mas a coisa começa a ficar problemática quando algumas dessas pessoas começam a levar a “brincadeira” a sério demais, acreditando nesses folclores e mitos virtuais e naquilo que expõem de si. O que acontece então é a mesma coisa como no jogo das crianças: um quer ser o rei do castelo, mas outros também querem, até o “bobo da corte” acha que o rei deveria ser ele. Uma menina é escolhida como princesa, mas ela prefere ser rainha, e a discussão é levada com a seriedade de crise mundial. As crianças resolvem o assunto de alguma forma, alguns ficam satisfeitos, outros não gostam, uns ficam embirrados, outros choramingam, xingam, uns se jogam no chão, esperneiam  e se negam a aceitar “as regras do jogo”. E é triste constatar: há adultos que se comportam da mesma maneira!

Não é isso que vemos diariamente? Gente levando tudo a sério, como se fosse vida verdadeira, gente egocêntrica, que acha que tudo gira em torno de sua pessoa (o egocentrismo de crianças é necessário e saudável – até certo ponto. Já o egocentrismo de adultos é para mim um desvio preocupante!), gente que fica embirrada quando não consegue o que quer, quando se declara rei ou rainha, mas não é aclamado(a) pelo “povo”, quando sua forma de “brincar sua fantasia” não é aceita e aplaudida por alguém. Às vezes, rola briga e gente imatura sai zangada, reclamando, e procura seus “amigos” para choramingar e lamentar: <<Olha gente como fui maltratado(a)! Quis ser rei/rainha e brilhar aqui no castelo (Facebook), mas fulano disse que eu só presto para ser dragão>> – coisa que fulano nem disse, mas isso torna a coisa mais dramática e acentua o papel de vítima. <<Consolem-me, por favor!>>. São formadas então fracções e coligações e o “dragão” volta com seu “exército” de embirrados, pronto para atacar quem quer que seja, por lealdade ao “amigo(a)” e por gostar de uma briguinha. E o ataque (infantil) começa: “Você não pode ser rei, pois seu nariz é torto!”, “você não pode ser rainha, pois mais parece uma bruxa”, “você não pode ser cavaleiro, pois mais parece um cavalo”. E a infantilidade continua, continua, continua… E rende, rende, rende, já que, como no mundo real das crianças birrentas, só se quer uma coisa: ter razão, custe o que custar! E, se não for por bem, então vai na birra…

Se alguém acha que estou exagerando, que pare um pouco para ler determinados posts e comentários pelo Facebook afora. Muitas vezes, falta qualquer objetividade, adultos discutem realmente como se fossem crianças embirradas, críticas são imediatamente tomadas como ofensas pessoais, que são devolvidas então como insulta pesada, os fatos são torcidos, a hostilidade é grande e, quando se junta a capacidade de abstração infantil com a prepotência adulta, o controle é muitas vezes perdido e qualquer forma de civilidade e qualquer capacidade de diálogo desaparecem. Pessoas adultas se comportam de uma forma infantil, imatura, cobram sua liberdade de opinião, mas não aceitam que os demais têm o mesmo direito. Qualquer opinião alheia é recusada, exceto quando se trata de um elogio, de alimento para uma autoestima baixa.

Se não fosse a sobriedade de alguns, realmente adultos, que conseguem discernir entre o mundo real e virtual e sabem se comportar adequadamente nos dois, o Facebook poderia ser visto como um verdadeiro hospício!

Não, não estou querendo aqui criticar o Facebook, redes sociais ou mesmo a internet. Não é isso. Como em tudo, há vantagens e desvantagens e sei muito bem usufruir das vantagens do mundo virtual. Só reflito aqui “em voz alta” sobre o comportamento de certos usuários, sobre a forma como muitos usam determinadas ferramentas e sobre o que se encontra por trás disso.

O mundo virtual não é para mim realmente virtual, já que por trás de cada perfil há uma pessoa real. A internet não é (ainda) totalmente controlada por máquinas. Ela é feita por pessoas e o mundo virtual, em minha opinião, é um espelho do mundo real. Mesmo que sejamos mais extremos na internet (por nos acharmos protegidos por uma suposta anonimidade?), os rastros que deixamos aqui é reflexo do que nos move e preenche ou que nos prende e esvazia no mundo real.

Portanto, não creio que essas animosidades de “birrentos cibernéticos” sejam algo “da internet”. Quem se comporta assim ou assado virtualmente é porque se comporta do mesmo jeito no mundo real (ou gostaria, mas não tem coragem ou espaço para isso). Toda essa hostilidade e toda essa infantilidade que vemos por aqui tem sua origem em vaidade, orgulho, frustração, amargura, complexos, limitações reais. A coisa vai tão longe que blogueiros famosos (por exemplo, Leonardo Sakamoto – Por que fechei meu blog para comentários) não permitem mais comentários em seus posts, alegando que eles perdiam muito tempo moderando a “loucura” de certas pessoas, que só comentavam para polemizar, reclamar, insultar e hostilizar, sem nada oferecer, sem nada construir.

Penso que ainda vamos precisar de algum tempo até aprendermos a lidar corretamente com o mundo virtual e com seus desvios e loucuras. Observando a velocidade com que o mundo digital tem se desenvolvido nas últimas décadas, compreendo que ainda estejamos deslumbrados com uma tecnologia que se encontra engatinhando. Acredito que a internet se desenvolverá ainda mais no futuro próximo, tornar-se-á ainda mais poderosa e sua presença em nossas vidas será ainda maior. Só espero que possamos desenvolver também técnicas adequadas para lidar com as excrescências, pois a internet, mesmo sendo uma benção na vida do homem moderno, tem seu lado negativo, para não dizer perverso. Mas creio que o melhor caminho para encerrar ou pelo menos reduzir comportamentos imaturos e hostis na internet seria o de (re)educar urgentemente as pessoas no mundo real, pois acho que é isso que falta. E isso se recebe em casa, na escola e no meio social real de cada um, não na internet.

Gustl Rosenkranz

Apaixonado por palavras, viciado em escrever, sem luvas, tocando no assunto, porque gosta e porque precisa, sobre a vida e tudo que a toca.

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