Todo mundo conhece alguém que, provavelmente desde criança, nunca se encaixa. É aquele sobrinho que troca de escola oito vezes entre o começo do primário e o final do colegial. Ou aquele vizinho que semestralmente muda de emprego. E tem também aquela conhecida que não é rica, mas vive viajando, parece até que tem asas no lugar dos pés.

Quem não se encaixa no modelo que a sociedade chama de correto, ganha a atenção. Quem leva uma vida diferente do trabalhar-de-segunda-a-sexta-em-horário-comercial sempre se destaca. Geralmente o foco vem em julgamentos negativos com comentários “Esse nunca vai sossegar” ou “Essa menina não sabe o que quer da vida”.

O padrão é o que a maioria acredita ser correto, mas o diferente também tem o seu valor. Algumas poucas almas possuem o chamado espírito livre. Elas nascem com asas sim, justamente porque vieram para voar. Elas são tão imensamente complexas que não cabem em um único lugar: sabem do tamanho do mundo e tem sede por conhecê-lo. Mesmo que nunca deixem sua cidade, com certeza trocarão várias vezes de emprego, casa, amigos e, principalmente, de ideia.

Espíritos livres são autoconfiantes, corajosos, curiosos. Experimentam uma comida nova aqui, se mudam para um apartamento ali, testam uma nova profissão mesmo depois de terem terminado a faculdade. São cruelmente julgados, mas permanecem de pé. Sua força interna os dá a certeza de que estão no caminho certo e de que a graça da vida está justamente na sua capacidade de recomeçar diferente todas as manhãs.

Se engana quem pensa que eles não possuem raízes. Eles possuem sim, raízes profundas. Sabem amar e sabem o valor do amor. Porém, só combinam quando encontram alguém que sabe a importância da liberdade. Uma vida pagando aluguel e prestação do carro pode murchar sua personalidade e se tornar uma doença, como a depressão. Enquanto a rotina os corrói, o novo os revigora, os renasce. Entendem o amor como a oportunidade de ter alguém que compartilhe as mesmas loucuras e tenha o mesmo desprendimento. Alguém que não tenha medo de virar e falar “Hey, vamos mudar tudo?” sabendo que a resposta será “É claro que vamos”.

Muitos são sozinhos, e está tudo bem. A jornada é sempre individual, afinal. Com amigos, com um par, ou em própria companhia, eles enfrentam a vida de peito aberto. Tentam o incomum. Chegam onde a maioria nunca pensou em ir. Visitam tribos na Índia, comem insetos na China, fazem trabalhos voluntários no bairro onde nasceram e aparecem de surpresa na casa da vó pro cafezinho no domingo à tarde. São imprevisíveis, bem humorados, sabem respeitar as diferenças, não tem tempo para preconceitos, tem opinião formada sobre assuntos polêmicos. Afinal, quem tem asas e voa por aí de peito aberto, compreendeu muito mais da vida do que quem apenas assiste jornal na tv aberta todas as noites.

Se você sente que não se encaixa, considere criar seu próprio quebra-cabeças. Leia algo novo, busque, converse com pessoas diferentes, aprenda outro idioma. Abra seu coração e encontre em si as suas respostas. Espíritos livres geralmente demoram para entender que nascer diferente do senso comum não é um defeito, e sim uma qualidade de muito poucos. Os que pertencem ao mundo são muito mais evoluídos do que aqueles que nunca tiveram coragem de arriscar. Não tema o novo, tenha medo de nunca mudar.

Imagem de capa:EpicStockMedia/shutterstock

Ana Carolina Faria Bortolo

Turismóloga e Administradora de Novos Negócios por formação. Escritora, pintora e dançarina por vocação. Planejadora de eventos, bartender, agente de viagens e vendedora por profissão. Garçonete de navio por opção. Vi o mundo e voltei, e de todos os rótulos que carrego na bagagem, só um me define bem: sou uma ótima contadora de histórias.

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Ana Carolina Faria Bortolo

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