Os sonhos são como as frutas…
Se ainda estiverem verdes, requerem de nós a paciência contemplativa de saber esperar; se estiverem maduros, esperam de nós a determinação ousada de se arriscar a colher; mas, se já passaram ou estiverem fora de época, eles nos ensinam que, algumas vezes, é preciso, simplesmente, deixá-los ir.
Para olhar para os sonhos de forma tão racional, é preciso estar maduro, assim como os frutos que já podem ser colhidos. Para permanecer com a capacidade de sonhar e colher os sonhos, estejam eles na época certa de colheita ou não, é necessário deixar repousar na alma a leveza de uma certa imaturidade benigna.
Os sonhadores permanecem jovens, a despeito dos anos de vida colecionados e vividos. Contrariando as engrenagens de um mundo que vive correndo atrás de melhores resultados, de mentes práticas e resolutas. Os sonhadores subvertem as regras sisudas e lógicas. Os sonhadores ousam acreditar numa existência menos árida e mais amorosa.
E é por isso que sonhar requer o cuidado da semente, mesmo antes que ela encontre no seio da terra fecunda, a chance de brotar. Há que se ter o afeto e o desapego na medida certa, para que as primeiras folhinhas não desistam de romper a fibra das horas de espera, e tampouco sejam sufocadas pela ansiedade de não saber honrar o tempo e, por isso mesmo, sorrir para ele e deixa-lo cumprir seu curso.
É preciso oferecer aos sonhos a aragem cálida das lágrimas de olhares emocionados, ou a correnteza de libertação dos prantos em rios, tão necessários para lavar a alma dos inevitáveis medos, das perdas, e das despedidas.
E assim, depois de lavados e libertos de todo o peso das bagagens que carregam os ensinamentos benditos, os sonhos devem ser estendidos para que sequem apenas o suficiente, no calor dos risos e das alegrias. É preciso que eles sejam invadidos pelo fogo de todas as coisas lindas, pelas quais pudermos nos apaixonar.
Iluminados, úmidos de vida e estufados de um pulsar que não mais se pode conter, os sonhos haverão de florir. E as flores haverão de ser tão coloridas e cheirosas, que todas as limitações em volta, acabarão por verem na própria imagem desbotada, algo que já foi esquecido. Elas ficarão quietinhas e obedientes e desistirão de nos apertar o peito.
E nesse silêncio de contemplação e júbilo, finalmente nascerão os frutos. Doces, tenros e cheios do caldo da fé em nossa capacidade de transformar experiências reais em fantasias possíveis. Fantasias coletivas, que transmutem esse mundo que anda tão hostil num lugar mais seguro e confiável. Um lugar onde ainda seja possível simplesmente sonhar!
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme Queen of the Tearling