Por María Beatriz Valdívia
Ouro Preto, cidade anacrônica e fascinante, nasceu no final do século XVII sob o nome de Vila Rica, como resultado da aventura colonizadora do interior brasileiro. Vila Rica cresceu e exauriu-se o ouro, mas o surgimento e apogeu da arte colonial em Minas Gerais- fenômeno ligado à exploração do ouro, acontecido no século XVIII – veio criar uma cultura dotada de características peculiares e uma singular visão do mundo. A Inconfidência Mineira por sua vez marcou o auge do pensamento político e fez mártires entre padres, militares, poetas e servidores públicos, liderados por Tiradentes.
Com a Independência, a cidade recebe o nome de Ouro Preto e torna-se a capital de Minas até 1897. É instituída Patrimônio da Memória Nacional a partir de 1933 e tombada pelo IPHAN em 1938. Em 1980 é declarada Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO.
A história da cidade é cheia de fatos e versões que acabaram se tornando verídicos com o tempo.
A descoberta: a data oficial da chegada do bandeirante Antônio Dias à região que seria chamada de Vila Rica é de 24 de junho de 1698, mas há evidências que diversas bandeiras já haviam passado anos antes. O frade e cronista italiano Antonil no livro Riqueza e Opulência no Brasil, publicado em 1711, narra que o descobridor de ouro nas Minas Gerais foi um mulato que andava buscando índios.
Tiradentes pobre e iletrado: o pai de Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, era responsável pela fiscalização de pesos e medidas, cargo de grande importância no Brasil colônia e a família era dona de uma enorme propriedade. Joaquim não era formado, mas exercia a medicina informal. A função de dentista era vista em igualdade com a de médico, já que naquela época eram raros os médicos formados em universidades da Europa. Tiradentes possuía boa caligrafia, gostava da leitura, em especial das proibidas, que ele lia em inglês e francês e contava com conhecimentos de mineração, engenharia, botânica e técnicas militares, além de ser influente nos meios comerciais da época.
Há quem ainda acredite que a Inconfidência Mineira foi apenas um movimento de portas fechadas sem apoio popular. Mas um dos motivos pelo qual o movimento foi desbaratado foi justamente pela participação cada vez maior de pessoas além do grupo original, formado inicialmente por intelectuais. O papel de divulgador do movimento cabia a Tiradentes, que se encarregava de atrair novos participantes pelas cidades por onde passava enquanto trabalhava.
Chico Rei: uma das figuras mais lendárias da história de Ouro Preto pode nunca ter existido. Chico teria chegado ao Brasil por volta de 1740 e as únicas fontes de referencia sobre sua vida se resumem a uma nota de rodapé no livro A Historia Antiga das Minas Gerais de 1904 escrito por Diogo de Vasconcelos. Segundo a tradição, teria sido rei de uma tribo africana e dono de um enorme séquito. Sua mulher e filhos morreram no mar a caminho do Brasil, restando apenas um filho e alguns compatriotas. Vendido para o trabalho nas minas, passou a liderar um movimento de resistência pacífica que residia na compra da liberdade de seus companheiros. A igreja de Santa Efigênia, cuja iniciativa de construção é atribuída a ele, não inclui seu nome em nenhum dos registros da ordem. Acredita-se que Chico Rei fez fortuna após comprar a famosa Mina da Encardideira, hoje Mina do Chico Rei, mas não existem documentos que comprovem que a mina, redescoberta na década de 50, tenha sido realmente administrada por um escravo, coisa bastante rara de se ver na época em que os direitos de mineração eram concedidos apenas para brancos.
Aleijadinho: a primeira biografia de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, data de 1858 e foi publicada num jornal da época por Rodrigo José Ferreira Bretas e ainda hoje gera controvérsias por não ser fundamentada em documentos ou qualquer outra fonte histórica oficial. Ela se baseia nos relatos da nora do artista, que contava com 89 anos na época. Aleijadinho trabalhou, em tese, de 1755 a 1812. Por volta dos 40 anos foi acometido por uma doença, ainda hoje desconhecida, que lhe causou paralisia nas mãos e pés e depois necrose, perda dos dedos e deformação da face. Cerca de 30 doenças já foram atribuídas a ele por uma legião de médicos, pesquisadores, historiadores e fanáticos. Hoje a hipótese mais aceita é o reumatismo deformante. O fato é que Antônio Francisco Lisboa nunca foi chamado em vida pela alcunha de Aleijadinho, o nome teria sido uma criação moderna. Outro fato controverso é a ideia de que Aleijadinho fosse mesmo filho de um dos maiores arquitetos do período colonial, Manoel Francisco Lisboa, responsável pelas obras da Matriz de Antônio Dias, pelo palácio do Governo e pela igreja de Nossa Senhora do Carmo, entre outras. A polêmica nasce do fato de que na certidão de batismo de Antônio F. Lisboa de 1730, consta o nome do pai como Antônio Francisco da Costa, e não Lisboa. A diferença de datas atribuídas ao nascimento do artista também gera esta desconfiança. Segundo Bretas, Aleijadinho teria nascido em 1730, mas em sua certidão de óbito consta que teria morrido em 1814, aos 76 anos, portanto nascido em 1738. Outro fato interessante é que Manuel Francisco Lisboa era casado e pai de quatro filhos quando Aleijadinho nasceu. Era estranho que naquela época um português, de origem nobre assumisse oficialmente um filho bastardo com uma escrava. Para alguns historiadores a filiação de Aleijadinho ao arquiteto é apenas uma solução para a questão: onde Antônio Francisco aprendeu suas técnicas?
Outra questão polêmica: Aleijadinho teria morrido pobre, o que não condiz com a condição de destaque de seu suposto pai, um dos homens mais bem sucedidos da região.
http://www.bomsera.com.br/2014/01/5-fatos-controversos-sobre-historia-de.html
http://www.cidadeouropreto.com.br/index.html
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