O poema “Ozymandias“, escrito por Percy Shelley em 1818, traz à tona reflexões sobre a efemeridade das glórias humanas e o impacto inevitável do tempo. Na obra, um viajante se depara com uma estátua colossal em ruínas, perdida em um vasto deserto. A base traz uma inscrição arrogante: “Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: Contemplem minhas obras, ó poderosos, e se desesperem!”. Mas ao redor da estátua, tudo o que resta é areia. Essa imagem poderosa nos convida a pensar sobre o futuro da humanidade e a natureza de nossas próprias “glórias” modernas.
Diante das imensas estruturas e megacidades de hoje, lembramos Ozymandias e refletimos: como nossas conquistas resistirão à passagem do tempo? Assim como as ruínas de Ozymandias, os arranha-céus, satélites e metrópoles modernas, quando sucumbirem à degradação, contarão uma história de soberba e descuido. Em um futuro hipotético, esses escombros podem se tornar marcos de uma civilização que se perdeu em sua busca incessante por crescimento, sem se importar com as consequências.
Da revolução industrial ao antropoceno
Curiosamente, as raízes de nossa crise ambiental moderna começaram na época de Shelley. Em 1818, o mundo estava no início da Revolução Industrial, que trouxe avanços sem precedentes, mas ao custo de uma maior exploração dos recursos naturais e da intensificação das emissões de carbono. O carvão alimentava as máquinas da época e lançava dióxido de carbono na atmosfera – o primeiro passo de um longo caminho de impacto ambiental. Desde então, a temperatura global subiu aproximadamente 1,5°C, e estamos cada vez mais próximos de um ponto sem retorno.
Uma civilização em risco de desaparecimento
Hoje, seguimos construindo monumentos de ferro e concreto, guiados por um modelo de desenvolvimento que valoriza o consumo e o lucro, frequentemente à custa do equilíbrio ambiental. A exploração desenfreada de combustíveis fósseis, a poluição e o desmatamento revelam uma “fome” por crescimento que ameaça nossa própria sobrevivência. Ao mesmo tempo, a ciência avança em descobertas extraordinárias sobre o universo, permitindo-nos ver o planeta de longe e compreender a escala de nossos impactos. Sabemos o que devemos fazer para mudar os rumos – a questão é se teremos a determinação para tal.
Os efeitos das mudanças climáticas já são visíveis
Os efeitos das mudanças climáticas já estão evidentes: chuvas torrenciais em locais inesperados, temperaturas recordes ao redor do globo, secas severas e o degelo nas calotas polares. Estes eventos são indícios de que nosso “império” também pode se transformar em ruínas, como o de Ozymandias. Mas, diferente do poema, temos hoje o conhecimento necessário para tomar decisões que poderiam evitar uma catástrofe climática. Ainda assim, muitas vezes falhamos em priorizar o futuro a longo prazo.
O legado que queremos deixar
A lição mais poderosa de “Ozymandias” está em como construímos o nosso legado. Queremos que nossas ruínas sejam um testemunho de uma civilização que soube coexistir com o meio ambiente ou um marco da nossa arrogância? Para deixar um legado sustentável, é necessário repensar profundamente nosso modelo de desenvolvimento e investir em soluções que priorizem a preservação dos recursos naturais. Podemos, por exemplo, migrar para energias renováveis e adotar práticas mais responsáveis de consumo e produção.
Nossa grandeza real está em preservar o futuro
O verdadeiro poder não está em erguer monumentos imensos, mas em garantir a durabilidade de nosso ambiente para as próximas gerações. Compreender a imensidão do universo e a delicada fragilidade da Terra nos mostra a importância de preservar o “fio de vida” que sustenta nossa existência. Que possamos aprender com as palavras de Shelley e tomar as ações necessárias para que “Ozymandias” permaneça um poema inspirador, e não uma sombria premonição do nosso futuro.
Confira o poema traduzido
Encontrei um viajante vindo de uma antiga terra
Que me disse: — Duas imensas e destroncadas pernas de pedra
Erguem-se no deserto. Perto delas, sobre a areia
Meio enterrado, jaz um rosto despedaçado, cuja carranca
Com lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor soube ler bem suas paixões
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,
A mão que os escarneceu e o coração que os alimentou
E no pedestal aparecem estas palavras:
“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplai as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos!”
Nada mais resta: em redor a decadência
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio
As areias solitárias e planas se espalham para longe