Fabíola Simões

Para alguém com o coração partido

Quando você esperou todos saírem e então conseguiu permitir que as lágrimas descessem fartas, naquele momento você descobriu que a dor também faz parte do amor.

Sabe, a existência é cheia de contradições, e com o afeto não poderia ser diferente. Talvez seu espanto venha do fato de descobrir que o amor não nos salva completamente. Ele nos salva de algumas coisas, mas não nos protege de não sermos correspondidos como gostaríamos ou como mereceríamos.

Talvez você esteja descobrindo que essa história de se apaixonar não é uma equação. Não obedece regras ou tópicos, e ter qualidades como ser bonito, bondoso, caridoso e paciente não é garantia de que o outro sentirá o mesmo que você.

Mas agora preste atenção. Seu coração pode ter sido partido, mas você não. Você continua, você permanece, você terá que ficar de pé e seguir em frente de que jeito for. E sim, é verdade, nunca mais será o mesmo depois disso, mas isso é bonito também. Pois você foi capaz de amar, de não ter medo, de se expor e ficar vulnerável como só quem ama de verdade é capaz de ficar. E você conseguiu. Talvez não tenha durado tanto quanto você gostaria, mas você sabe (e eu sei que você sabe) que houve bons momentos para você se orgulhar e entender que fez tudo o que podia.

Nunca, em hipótese alguma, se culpe por aquilo que não dependia só de você. Na vida temos que conviver com decepções e frustrações o tempo todo, e talvez essa seja a maior delas. Mas não procure culpados, isso não alivia o que você está sentindo nem ajuda a se curar.

Tenha, antes, paciência com seu tempo de recuperação. Chore, fique com raiva, jure que nunca mais vai se apaixonar. Escreva suas dores num caderno e faça um diário de sua convalescência. Tome sorvete direto do pote, delete fotos do seu instagram, corte o cabelo, faça uma viagem curta ou longa dependendo do seu tempo e orçamento. Ore, fique em silêncio, aproveite sua solidão.

Mas depois experimente um olhar novo para sua própria vida. Experimente amar-se de um jeito que nunca amou antes, experimente cuidar-se com afinco, experimente ser tolerante e amável com a pele que habita.

Eu sei que não é fácil, e as lembranças assombram de tempos em tempos. Mas chegará um dia, em que ao se preparar para dormir, você reparará que passou o dia inteiro sem uma lembrança sequer. Esse dia pode chegar logo ou demorar muito tempo, mas ele certamente vai acontecer. E você vai olhar para trás com doçura e perceber que superou. Que soube se reerguer sozinho ou com uma nova companhia. Que soube confiar em Deus e aceitar seu tempo de esperas. Que aprendeu a seguir de cabeça erguida mesmo quando o plano era nunca se separar. Que soube fazer castelos com o punhado de areia que restou, e que soube principalmente encontrar paz no meio do seu interior.

Não queira viver “consertando” histórias para você caber dentro delas. Quem lhe quer, coloca você dentro da própria história com vontade, sem que você precise implorar por isso. Quem lhe quer, transforma o próprio enredo, para você ser a parte mais bonita. Quem lhe quer, deseja fazer parte da sua história, do seu mundo, dos seus castelos.

Enfim, não permaneça onde seu coração não se sente em casa. Desate os nós que lhe prendem ao que não tem mais razão de existir e faça laços com novas histórias, construídas a partir de seu amor próprio. Ame suas conquistas e siga em frente valorizando quem permanece ao seu lado. Dê uma chance ao desconhecido, e subtraia o medo do olhar. E acima de tudo, só convide para entrar quem você tem a certeza de que deseja ficar…

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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