Um tropeção. É isso mesmo. O amor é um tropeção que a gente dá quando não espera. Acontece no susto. Já viu alguém tropeçar de propósito? Já viu um sujeito escolher “agora eu vou encher o pé naquela pedra ali e vai doer muito!”? Pode acontecer, mas será falso, ridiculamente fingido, forçado, irreal.
Imagine a pessoa determinar “agora eu vou gostar daquele ali, isso, vou me apaixonar sem freio e depois vou amá-lo e ver no que dá”. É possível, mas cadê a graça? E o inesperado, o frio na barriga? Amor não se premedita. Simplesmente acontece. O amor é um tropeção!
Vem de repente, vem mesmo. Ligeiro como o escorregão no piso inofensivo, a mordida súbita do cachorro fofo, o estouro da lâmpada que queima, o pneu que fura do nada. Lá está você, caminhando na vida, e uma topada violenta lhe tira a cor e a unha do dedão. E a cara de bobo? O amor, tal qual um tropeção, deixa a gente com cara de besta. Quem tropeça quase sempre olha em volta à procura de uma testemunha do incidente. Com a maior cara de idiota. Tudo bem, ninguém viu, deixa eu sair logo daqui.
Mas a quem tropeça, a impressão que dá é de que todo mundo em volta viu e agora comenta baixinho, segurando o riso: “olha lá, o fulano tropeçou! Riam dele!”. No ônibus lotado, os passageiros se divertem com a cena, e uma leveza inesperada rompe a tensão da viagem, os passageiros sentados decidem oferecer seus lugares aos que estão de pé. “Senta um pouco você, eu já descansei bem!”. E todos riem gostoso da sua cara de bobo tropeçando lá fora. Nos carros, motoristas raivosos desistem de buzinar e insultar os outros, divertidos que estão com o seu número de circo. O boato corre e de repente o mundo inteiro já sabe. Nas escolas e hospitais, nas repartições públicas e bancos e empresas multinacionais, nas bolsas de valores e na casa daquela sua tia com procuração para cuidar da vida alheia, o assunto irresistível da vez é o seu tropeção.
O amor é assim. Você topa com ele de cheio e, tentando não cair, cambaleia quatro passos à frente, se reequilibra do jeito que dá e só vai parar dois metros adiante. Porque, entre tantas outras qualidades, o amor é o ofício de nos jogar para a frente na vida!
Dependendo do tamanho do amor, o tropeção resulta em queda, sim. Tem amor que derruba mesmo! Implacável, contundente, faz o amante ganhar o chão. Mas é um tombo sempre, sempre para a frente. Quem cai, levanta, bate a sujeira da roupa, cuida de um e outro joelho esfolado, um pulso aberto, um coração partido e segue a vida, dois passos à frente de quem ainda não passou por isso.
Amor de verdade, amor no duro, não segura e nem atrasa a vida de ninguém! Chacoalha, empurra, desequilibra, vez ou outra derruba a gente junto com a sacola da feira, espalha as mexericas na calçada. Mas nos leva sempre para a frente. O amor é o que nos deixa melhores! Nunca piores.
O que empata, amarra, prende, cerca, encurrala, acorrenta, restringe, diminui e atrasa tem qualquer outro nome. Menos amor. Quem se sente preso ao outro já não tem amor. Quem sente a vida andando para trás já não ama. Se é para estarmos juntos, com amor, vamos em frente! E que a vida decida até quando nossos rumos serão os mesmos.
O amor é a topada divina no caminho, a dor que nos lembra: “você ainda vive!”. É um sinal de vida. E o sentido da vida é para a frente! Só tropeça no amor quem anda por aí, quem vive em movimento. Quem cai e quem levanta. É pra você e é para mim. O amor é para todos aqueles que caminham pela vida!