Guardo um pouco de todos os amigos que passaram em minha vida.
Um amigo nos marca e sempre deixa um pouco dele em nós. Na infância dividimos descobertas e compartilhamos fantasias. Somos estreantes num mundo novo, mas já sabemos que não vamos desbravá-lo sozinhos.
A beleza da amizade na infância está na pureza da relação e nas primeiras descobertas. Lembro que aos 08 anos quando andava chateada pela separação dos meus pais, contei o fato a uma amiga da mesma idade e pedi segredo. Era um desabafo infantil, mas com ele aprendi que era possível confiar em outra pessoa que não fosse da família. Isso faz 30 anos e somos amigas e confidentes até hoje.
Na adolescência tudo é mais complexo, os amigos se transformam um pouco em cúmplices. Compartilhamos nossos medos, sonhos, experiências, alegrias e frustrações. Entramos em algumas enrascadas e saímos delas, geralmente, mais maduros. Nessa fase acreditamos que a convivência será eterna, mas isso pode acontecer ou não.
Quando essas amizades perduram até a vida adulta, os nossos amigos se elevam à condição de irmãos, nos conhecem, sabem o nosso passado e por isso entendem bem o nosso presente. Não precisamos explicar muita coisa sobre nós.
Com isso, não estou afirmando que os novos amigos possuem um grau menor de importância. De jeito nenhum! Amor não se mede pelo tempo.
Apenas penso que uma amizade quando perdura da infância ou adolescência até a velhice é como uma novela ou uma série em que assistimos todos os capítulos do começo ao fim possibilitando uma compreensão melhor do enredo. Contudo, não significa dizer que se começarmos a acompanhar do meio não vamos amar ou entender.
Amizade é sobretudo amor, afinidade, companheirismo e lealdade.
Já os amigos que ficaram para trás, pela falta de convivência, foram importantes e até mesmo necessários. Sinto falta de alguns, mas não sinto culpa pela minha ausência na vida deles, nem muito menos os culpo. Dou os créditos à própria dinâmica da vida.
Se um dia nossos caminhos se cruzarem novamente, haverá o mesmo carinho e acredito que a mesma empatia. Afinal de contas, como diz o escritor Fabrício Carpinejar, os amigos nos salvam de tantas situações que acabamos com parte deles encravada em nossa personalidade:
“Amigos me salvaram da fossa, amigos me salvaram da inveja, amigos me salvaram da precipitação, amigos me salvaram das brigas, amigos me salvaram de mim. Os amigos são próprios de fases: da rua, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da faculdade, do futebol, da poesia, do emprego, da dança, dos cursos de inglês, da capoeira, da academia, do blog. Significativos em cada etapa de formação. Não estão em nossa frente diariamente, mas estão em nossa personalidade, determinando, de modo imperceptível, as nossas atitudes.”
Dos amigos que se foram, não sei bem o caminho que trilharam, nem se são felizes ou não. Não sei como são hoje, mas sei o que foram. Sei a importância que tiveram e o que representaram na minha vida.
Foram amigos no passado, mas sempre terão um espaço no meu coração no presente e no futuro, pois parte de mim guarda um pouco de cada um deles.
Segundo Mario Quintana “amizade é um amor que nunca morre”.
Concordo com o poeta.
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