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Para o ano novo, uma alma sem teias de aranha

Todo mês de dezembro, o ritual repete-se: limpar a casa com mais esmero, tirar os enfeites natalinos das caixas e preparar a casa para as festas de final de ano. Rearrumam-se os bibelôs de todo dia ou eles são temporariamente guardados para dar lugar a papais noéis, guirlandas e a tradicional árvore com suas luzes coloridas, sem esquecer o presépio, e a mesa com os arranjos para a ceia. Dos mais simples aos minuciosos, que não abrem mão dos mínimos detalhes, dos econômicos aos que não poupam nem medem esforços na preparação das comemorações, há sempre algo a arrumar ou cozinhar. Faxina-se a casa, para abri-la e receber amigos e parentes. Antes da noite da troca de presentes e da tradicional rabanada, lavou-se a louça e espanaram-se os cômodos, arrumaram-se gavetas, descartaram-se papéis, doaram-se livros já lidos e roupas que não cabiam mais, jogaram-se fora objetos quebrados e aparelhos sem conserto, enfim, abriu-se assim espaço para o novo.

Mas se é prazeroso cuidar do local onde se vive, decorar os móveis, pintar as paredes, arejar os armários, lavar as janelas, por que não fazer isso tudo na alma? Quanto lixo não se acumula dentro de si mesmo, em forma de ressentimento e mágoa, que entulha o coração e impede novas emoções de entrar? Quanta raiva faz teia de aranha no peito, dificultando o amor de respirar e se expandir? Quanta tristeza e frustração criam cicatrizes na alma, tornando a vida uma sucessão de dias sem graça? A questão é o que se faz das emoções negativas que se experimenta, inevitavelmente, em resposta a situações difíceis ou dolorosas. Se não forem enfrentadas e superadas, acabam entulhando a pessoa de um  sofrimento desnecessário que a tudo envenena.

Se são as relações, pessoais ou profissionais, que alimentam as ruminações e dificultam o bem-estar, é hora de repensar como se lida com aquele familiar/amigo/colega sem limite ou noção e não aceitar mais um tratamento desrespeitoso. Antes que você fique zangado comigo, afinal, minha intenção não é despertar mais sensações ruins, perguntando-se onde está sua responsabilidade de mudar, quando o comportamento criticável vem do outro, esclareço que, na maioria dos casos, nas relações problemáticas, os conflitos acontecem  por falta de assertividade e a pessoa consegue atingir o ponto fraco, manipulando as dificuldades do outro, calando seus direitos com ameaças veladas ou claras de retirar o afeto ou retaliar de alguma foma. Resumindo: só fazem com você o que você permite que façam. Então, mude isso também.

E se você reconheceu que está guardando emoções e sentimentos negativos, aproveite a faxina da casa e faça uma também em si mesmo. Fique mais leve, descarte o que não é saudável, desintoxique-se de relacionamentos abusivos e situações estéreis. Inaugure um novo jeito de ser, não vai ser fácil nem terá resultados rápidos, mas não desista, não desanime, é preciso tempo e persistência para modificar comportamentos automáticos e sair da rotina. Ponha um pé fora de seu antigo eu e experimente novas emoções positivas. Garanto que você não vai se arrepender.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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