Talvez, nos dias de cansaço, a gente se demore nos lugares onde nos esperam, hoje não há tempo, as contas nos esperam e os relógios residem em todos os cômodos de nossas almas, precisamos acelerar em viagens rotineiras pra lugar nenhum.

Nesses dias vazios a gente vai se perdendo, correndo o risco de não perceber onde fizemos nossos pousos, diante de risos amarelos agradecemos o pouco concedido, reverenciamos a rua estreita, tratando becos como avenidas arborizadas.

No cansaço, a possibilidade de despertar ao som de pardais e de um café onde não caiba o mais ou menos mas, somente, a segurança de sermos quem somos, saborear o que fica quando o resto dá errado, simplesmente porque somos amados.

Para os dias de cansaço, também, os espaços que mereciam existir hoje, as horas destinadas para o amor, o abraço demorado e as juras eternas. Feito roupas no varal, sedentas de brisa e sol, estendemos o que nos dá sentido no varal do depois. Seguimos, nos contentando com o meio do caminho, parados em estações sem significados.

Amanhã, talvez, a possibilidade de sermos inteiros em nossos pedaços, o cheiro de flor na alma, as roupas macias no corpo preparado, as falas silenciadas pelos olhos que enxergam, o sono tranquilo, a comida com sabor, as mãos que afagam, as horas que seguem, delicadas, porque descobriram a vida na rotina de existir sem estar morto.

Amanhã, a possibilidade de um mundo povoado por pessoas que, além de se preocuparem, se ocupam dos nossos dias.

Imagem de capa: gpointstudio/shutterstock

Teresa Gouvea

Psicóloga Clínica Especialista em Família pela PUC SP, especialista em Luto pelo 4 Estações Instituto de Psicologia SP.

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