“É bom estar desiludido. Significa que você está fora da ilusão e veio para a realidade.” Essa frase de Sri Sri Ravi Shankar me fez parar e pensar que, afinal, às vezes basta olhar a situação por outro ângulo e ter uma percepção totalmente nova. Achei essa abordagem tão interessante que fui pesquisar e descobri outro pensamento, esse de Chico Xavier: “A desilusão é a visita da verdade.” Então busquei o dicionário e lá estava: “ato ou efeito de desiludir(-se); desengano; desilusão”. A conclusão rápida é que só se desilude quem se engana, ou espera algo que deseja sem levar em conta os outros.
Antes que me acusem de frieza ou algo parecido, esclareço que, como psicóloga, me interessa refletir sobre as motivações e impulsos que comandam corações e mentes e os levam a pretender que basta querer e fazer. A desilusão amorosa, por exemplo, acontece quando uma parte do relacionamento não apenas ama mais que a outra parte envolvida, mas está vivendo em função do que acredita que deverá acontecer, sem considerar o que o outro pretende. Um quer casar, o outro, viver a vida, mas um dia ele pode mudar de idéia e ser convencido do que se pensa ser melhor para ambos. Será? Talvez, mas não naquele momento, ou com aquela pessoa. E haja desilusão (e lágrimas e fotos rasgadas) quando o objeto do amor e de tanta ilusão vai embora, talvez sem aviso, mesmo tendo sido uma previsão que se cumpriu.
Desilusão trata de expectativas sobre situações que não estão totalmente sob nosso controle e pessoas que, vamos encarar a realidade, agirão em primeiro (e dependendo da visão de si mesmas e do mundo, em segundo, terceiro…) lugar, visando seu interesse e bem-estar, característica humana, demasiadamente humana, parafraseando Nietzsche. E a gente fica ruminando, se culpando, culpando o outro, como se a vida fosse um caminho em linha reta, previsível e com manual de instrução em idioma desconhecido que se tivesse que aprender num instante. Sendo assim, a desilusão nada mais é do que o doloroso enfrentamento da realidade que se vestiu de fantasia. Ou, na crença de que um pacto de reciprocidade total é possível entre as pessoas, quando, na verdade, nem sempre a vida vai corresponder ao investimento que fazemos, seja emocional, social ou profissional, porque sempre há muitas variáveis em jogo.
Como então encarar a desilusão para que ela não machuque fundo, torne-se uma dor crônica e um impedimento para outras oportunidades de ser feliz? Primeiro, é preciso aceitar que a desilusão faz parte da vida e, por mais amarga que seja a decepção, ela não tem o poder de definir como será o resto de sua existência, não deve se transformar em cicatriz. Depois, em lugar da culpa ou do arrependimento, permitir-se sentir tristeza pelo que se foi, seja pessoa ou sonho. E quando a emoção for diminuindo, começar, aos poucos, a arejar o coração e a mente, meditar sobre o que aconteceu, principalmente com o objetivo de perceber o que não estava de acordo com as possibilidades de sucesso, para não se repetir os mesmo enganos no futuro. Porque a desilusão pode representar uma preciosa lição e um grande impulso no desenvolvimento pessoal.
Suas esperanças foram frustradas? Não faça disso o fim do mundo, mas o começo de outras histórias, e, agora recorrendo a Paulo Vanzolini, repita para si mesmo: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.”
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