Por Gabriela Gasparin
Naquele começo de tarde, eu caminhava apressada pela Avenida Paulista em direção ao metrô Trianon quando li a seguinte frase: “Eu sou o Gabe. Conto piadas.” O cartaz estava colado numa mesinha na calçada. Sentado nela, um rapaz fazia anotações num caderno.
Foram poucos os segundos entre eu ler a frase, passar direto e decidir dar meia volta para conversar com o Gabe. Mesmo atrasada para um almoço, pensei que valeria a pena perder alguns minutinhos para perguntar o sentido da vida ao rapaz– no mínimo, eu poderia sair de lá dando risada.
Gabe é o apelido que Gabriel Cielici, de 28 anos, sempre teve. “Minha mãe me chama de Gabiroba, que é uma fruta da terra dela. Ela não me chama de Gabriel nem quando é sério. Quando é sério ela fala Gabe. Ninguém me chama de Gabriel. É Gabe.”
(aliás, aprendi com o meu xará que Gabiroba, palavra que muitas pessoas também usam para me chamar, é o nome de uma fruta. Eu achava que eram apenas sílabas que, juntas, formassem sons divertidos, mas sem significado)
Após a introdução sobre o apelido, eu quis entender o que levava Gabe a ficar sentado na calçada para contar piadas. E não era dinheiro. Eu cheguei a achar que o intuito seria ganhar alguns trocados, mas logo em seguida ele mostrou a outra cartolina que estava colada ao lado da primeira: “piadas de graça.”
Foi quando Gabe me explicou que é comediante de “stand up comedy”. Ele mora numa kitnet apertada no Centro de São Paulo. Para não ficar enclausurado trabalhando nos textos sozinho dentro de casa, foi para um lugar onde há alto fluxo de pessoas: pegou uma mesinha e foi escrever seus roteiros na rua. “As pessoas me viam e perguntavam o que eu estava fazendo. Eu sempre chegava e explicava a mesma história, dizia que conto piadas. As pessoas falavam, então conta uma piada!”
Gabe acatou a sugestão, colocou o cartaz e passou a praticar na rua as piadas para contar à noite no bar. Faz isso há cerca de cinco meses. “Eu fico escrevendo e contando piada. Testando meu material ao mesmo tempo em que crio.” Além da Avenida Paulista ele costuma ficar também em outros lugares públicos de São Paulo, como o Parque do Ibirapuera ou o Minhocão.
E explicou que não cobra pelas piadas na rua porque não é o intuito final – ele já recebe pelas apresentações que faz à noite. Ele até colocou a plaquinha para dizer que é de graça para não inibir as pessoas de se aproximarem e pedir uma piada. “Eu realmente não quero nada em troca na rua, de dinheiro. Eu já faço meus shows para me sustentar. Aqui é mais para divulgar meu trabalho e ganhar experiência com as piadas que conto. Observo e absorvo bastante coisas à minha volta, eu gosto.”
Rir pra não chorar
Gabe me contou que é comediante autodidata. Chegou a começar várias faculdades, mas não concluiu nenhuma. “O mais próximo que eu cheguei de me formar foi um curso que eu fiz de roteiro na Academia Internacional de Cinema. É o que eu precisava para me dar a diretriz de escrita e conseguir passar os pensamentos melhor da minha cabeça para o papel. O resto a gente vai pegando no palco, vai pegando experiência, vai pegando o timing sozinho.”
Entre as faculdades que começou a fazer está Rádio e TV, Administração e Publicidade. Além disso, sempre trabalhou. Já foi vendedor de portas, professor de inglês e classificador internacional de café por cinco anos em Santos, no litoral de São Paulo, onde vivia.
Aí perdeu o emprego e, no mesmo período, levou um fora de uma namorada com quem estava há cinco anos. “Vendi meu carro pra viajar com ela para a Disney e ela terminou comigo. Tenho até hoje tatuado o M de Maíra.”
Gabe sempre gostou de stand up comedy. Aproveitou o ‘boom’ que ocorria na época no Brasil e começou a frequentar apresentações e a fazer participações rápidas. “Comecei a desenvolver meu próprio material e a falar das minhas coisas, da minha ex-namorada, do meu jeito de ver as coisas, e comecei a fazer piada.”
O comediante avaliou que o período depressivo que passou, com a perda do emprego e da namorada, de certa forma o estimulou a fazer piadas. “Ainda mais com a comédia. Eu sigo muito a linha que a comédia verdadeira vem de um lugar sombrio. O comediante nunca é aquele cara que é o engraçadinho da roda ou da sala, que todo mundo acha graça. O comediante é aquele cara que está quieto no canto só observando e guardando a ironia para a cabeça dele.”
Sentido da vida
Quando perguntei a Gabe qual é o sentido da vida, ele me disse logo de cara: “eu já entrei em depressão várias vezes sobre isso. Eu não sabia qual é a utilidade, a importância de eu estar aqui. Se existem alienígenas ou não, se eu vou deixar um legado ou não. É puro egoísmo meu eu querer deixar um legado, então eu vivo em conflito com isso.”
E a conclusão que chegou é que, se há ou não um sentido maior, tem que fazer o melhor que puder enquanto estiver aqui. “Eu tento estar aqui e dar o meu melhor.”
Revelou que pensava justamente nesse assunto naquele dia, ao olhar para cima. “Eu acho que quando a gente olha para cima com esperança em alguma coisa, ou em Deus, ou como eu, que acredito em alienígena, a gente está olhando meio que no espelho da gente. Sempre que alguém reza para alguma coisa, a pessoa não sabe mas ela está rezando para si mesma.”
Para Gabe, esse rezar para algo funciona como uma força motivacional. “Eu acredito que parte do sentido da vida é você se motivar bastante, porque quando a gente morre, morre e acabou. Pelo menos pelo o que sei. E morre e é frio. E não importa o quanto você seja importante, o mundo vai continuar sem você.”
Disse acreditar em energias que nos influenciam. “Quando eu coloco um pouco mais de fé, quando eu acredito, coloco fé em mim, eu acredito que energias ficam em volta de mim e ajuda. Acredito que quem se aplica nas coisas consegue, porque tem coisas que agem para o nosso bem quando a gente trabalha muito. É meio clichê falar isso, é meio vago, mas funciona.”
(Atualização: esqueci de colocar que saí de lá tão atrasada para o meu almoço (a conversa com Gabe demorou uns 20 minutos, mas isso pra quem está atrasada é muito tempo), que acabei não pedindo nenhuma piada. Tudo bem, fui embora dando risada mesmo assim, porque conheci uma figura e tanto e um sentido da vida a mais para ‘motivar’ meu dia)
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