Para morrer, basta estar vivo. Para viver, não.

A morte não manda recado. Não pede licença. Não respeita ordem cronológica. Não respeita ordem alguma. É surpreendente. Intensa. Arrebatadora. Ladra de possibilidades. Ladra de futuros. Ladra de almas. Almas que quase nunca estão preparadas para serem roubadas, não importa a idade que seus corpos tenham.

Não sei se por vontade própria ou se por egoísmo de seus corpos aprisionadores, mas as almas insistem em ficar. Lutam pela vida até o fim. A morte, a alma, a pessoa… É desse perigo constante que a vida é feita.

A morte é matreira. Está sempre por perto, buscando uma oportunidade, um deslize. É tão delicada a fração de segundos em que tudo o que era passa a não ser… Num piscar de olhos, todo o futuro fica preso num presente doloroso que logo será passado. E é cruel saber que o tempo não regride. Não há como corrigir.
Não há negociações! O que está feito, está feito! É preciso ter cautela antes de agir. A prevenção é inimiga da morte.

Para morrer, basta estar vivo. Para viver, não. Para viver, estar vivo não é o bastante. Para viver é preciso estar atento. É preciso enxergar-se. Amar-se. Cuidar-se. É preciso trabalhar com prazer. É imprescindível vivenciar momentos de qualidade com pessoas queridas frequentemente.

É vital abraçar. Sentir-se querido e querer bem. É extremamente necessário fazer planos. E também traçar metas para alcançá-los. E seguir as metas. E saborear a delícia da conquista. E planejar de novo e de novo. E sonhar acordado. Ter orgulho de si mesmo. E compartilhar com o mundo a melhor parte de si. E evoluir. E aprender algo novo. Ajudar. Doar-se. Diminuir o sofrimento alheio. E sorrir. Rir sempre. Espalhar sorrisos. E fazer a diferença.

Se não for assim, nem vale a pena brigar tanto com a morte. Acho que nem ela entra na briga se não houver o que roubar…Talvez por isso digam que “vaso ruim não quebra”. Talvez por isso os bandidos permaneçam vivinhos da silva enquanto muita gente boa se vai.

A morte não se beneficia com mortos-vivos. Ela desiste deles. Sendo assim, não quero que a morte desista de mim. Quero apenas aprender a despistá-la por enquanto. Quero que ela tenha o que roubar, mas quero (mais do que tudo) saber me defender. E quando ela ousar tentar uma aproximação, desejo que minha alma mereça me pertencer e queira ficar. Já consegui isso uma vez.

Sei que não dá para enganar a morte eternamente, mas primeiro vou mostrar ao mundo o que eu vim fazer aqui. Depois aceito conhecer o que ela tanto quer me mostrar no lado de lá… O que até me atrai, porque do lado de lá deve estar Deus.







Educadora com formação em Letras Português/Inglês e foquei minha carreira na alfabetização durante quinze anos. Porém, um câncer de boca (localizado na língua) me afastou da sala-de-aula e me fez descobrir o dom que adormecia em mim: a escrita. A doença me deu tempo e uma história para contar. Resolvi registrar no papel como o câncer me curou, transformando-me em alguém melhor. Assim nasceu o livro Impactos do Câncer, que foi lançado no final de 2015. Desde então, sigo escrevendo sobre o que meu coração manda, porque sinto que é essa a contribuição que sei deixar para o mundo.