O filme Frances Ha, de 2012, fala sobre crescimento profissional e, especialmente, sobre crescer ao lado de alguém. As protagonistas Frances e Sophie são melhores amigas e precisam aprender a lidar com o fato de que a vida não para por ninguém. Em certo ponto da narrativa, Frances diz algo que eu já tinha ouvido falar em outras produções audiovisuais, mas que nunca realmente tinha parado para refletir sobre: “Aquela é a sua pessoa nessa vida”. A personagem faz alusão ao fato de duas pessoas gostarem tanto uma da outra que, mesmo em um ambiente público, sabem reconhecer o quanto são importantes nas vidas de ambas.
Fico imaginando quantas pessoas passam por nós todos os dias, que sequer observamos. Ou quantas pessoas olham para nós com carinho e não nos damos conta. Ou quantas pessoas escondem o amor para se preservar, ou para preservar a quem se ama. A verdade é que, ao nunca pensarmos nessas questões, estamos também ignorando o fato de que temos importância na vida de alguém. E esse alguém pode ser um desconhecido completo, a nossa melhor amiga, ou aquele vizinho que só sabemos o nome.
No final do monólogo, Frances diz que a situação é “divertida e triste, mas só porque essa vida irá acabar”. Temos mania de afirmar o quanto precisamos fazer tudo aquilo que gostaríamos de fazer sem pensar nas conseqüências, já que a vida é curta e precisamos aproveitá-la. Devíamos fazer aquela pergunta que achamos idiota no meio da aula, aprender a tocar piano só porque gostamos da sonoridade (não precisamos ser realmente bons), esquecer de acordar cedo num sábado mesmo que tenhamos combinado de ir ao parque com alguém, adotar cachorros, ou dizer que amamos nossos amigos (por que nunca dizemos?). Mas, quando tentamos colocar tudo isso na prática, sempre parece loucura, esquisitice, ou simplesmente inútil. De certo modo, pensamos que tudo o que fazemos ou dizemos não faz diferença nas vidas alheias, quando é exatamente o contrário. Talvez, a pessoa que você menos espera está lá te ouvindo falar com as paredes, enquanto seus amigos estão no celular. Talvez, tudo o que você sempre quis dizer para alguém, esse alguém também esteja querendo dizer.
E é por isso que Frances – e muita gente por aí – deseja que exista aquela única pessoa em sua vida: porque, quando se a tem, a vida pode terminar a hora que for que, ainda assim, haverá felicidade, companheirismo e aceitação. É pertencer a algo exclusivo, algo que não dá pra dividir com mais ninguém. E não precisa ser parte de algo romântico, como no caso das protagonistas, apenas precisa ser parte de uma história.
Nina Spim
É uma escritora sonhadora dotada de blue feelings. Cursa Jornalismo na PUCRS, adora as palavras, mora nos livros, gosta de cinema como um esporte, é seriadora aos fins de semana e escritora compulsiva. Autora dos contos “Heart and Love” e “Coisas, definitivamente, de Amélia” das Antologias Amor nas Entrelinhas e Aquarela, respectivamente, pela Adross Editora.
Dona do blog http://ninaeuma.blogspot.com/
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