Perdoar é se lembrar sem se ferir

Dia desses, passeando pelo Instagram, me deparei com uma frase de um autor desconhecido: “Perdoar não é esquecer: isso é amnésia. Perdoar é se lembrar sem se ferir e sem sofrer: isso é cura. Por isso é uma decisão, não um sentimento…”

E parei para pensar no que a frase diz. Que o perdão é uma decisão _ nem sempre simples, nem sempre fácil_ mas ainda assim, uma decisão de seguir em frente sem mágoa ou dor. Não é simplesmente “deixar pra lá”, deletar e não pensar mais no assunto. É sim, conseguir encarar a questão de frente e não ter mais sofrimento ao confrontá-la.

Para isso, é preciso rasgar-se e então remendar-se. Escancarar todas as feridas para depois curá-las. Ousar remover todos os curativos para então ventila-los.

Quem concede o perdão beneficia a si mesmo. Pois ao se livrar de lembranças dolorosas, mágoas rasgadas e ressentimentos embolorados, percebe que se curou.

Ninguém esquece daquilo que lhe feriu, que doeu, que dilacerou. Mas a gente pode superar. Pode enxergar o que rasgou sem se machucar. Pode entender o que morreu sem se enlutar. Pode conviver com o que restou sem se magoar. Isso é perdoar. Isso é permitir que a história siga seu curso trazendo uma lembrança que não pesa mais.

Na vida é necessário perdoar sempre. Perdoar a finitude das coisas, perdoar a pressa do tempo, perdoar as despedidas e os pontos de vista, perdoar erros bobos ou grandiosos, perdoar as ausências, perdoar a falta de jeito e a indiferença. Sem o perdão, ficamos presos a um lugar de falhas e faltas. Não seguimos em frente, não superamos, não evoluímos.

É preciso ser leve. Absolver a existência de culpas que nos atam a um lugar que não existe mais, e livrar nossa história de ressentimentos antigos. Se sua infância foi dolorosa, se seus pais não cuidaram de você com cuidado, se você sofreu bullying na escola, se seu primeiro namorado lhe traiu, se sua amiga lhe humilhou… tudo isso passa a ser irrelevante quando você aprende a perdoar. Quando você entende que a dor pelos fatos ocorridos pode ser carregada ou não. Quando você percebe que as feridas fazem parte da sua história, mas é você que decide como quer lidar com elas.

A gente não se esquece dos cacos de vidro que pisou, mas a cura chega quando a gente volta a caminhar sem dor. A gente se lembra, mas não se importa mais. Isso é perdoar. Isso é permitir que sua história siga sem lhe machucar.

Talvez seja hora de encarar aquilo que não sabemos lidar e simplesmente perdoar. Iremos descobrir que não precisamos esquecer pra seguir em frente, e sim decidir que isso não tem o poder de nos machucar mais.

O perdão é uma escolha. Uma escolha de viver sem dívidas com o passado, uma escolha de se desvencilhar das mágoas e ressentimentos e, principalmente, uma escolha de viver sem dor.

Imagem de capa: alexkich/Shutterstock

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Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.