Quando o peso em suas costas parecer maior que a sua capacidade de carregá-lo. Quando algumas lembranças o fizerem lamentar atitudes que teve, coisas que disse ou omissões cometidas. Quando a imagem do outro lado do espelho assemelhar-se mais a um juiz carrancudo do que com você mesmo…
Talvez esteja na hora de se reconciliar consigo mesmo, encarar a difícil constatação de que você também erra e, apesar de ser uma excelente pessoa em quase cem por cento do tempo, é alguém falível. E pode ser, inclusive, que haja algumas coisinhas no seu passado, recente ou distante, das quais não seja possível orgulhar-se.
Perdoar é tão difícil, mas tão difícil, que sempre aparece relacionado a ideias libertadoras no âmbito emocional. Perdoar requer que se chegue ao interior dos ossos de sentimentos como culpa, inveja, mágoa, ira e toda sorte de ressentimentos que vão nos ressecando por dentro e nos imobilizando por fora.
E se perdoar o outro já é um imenso desafio, perdoar a si mesmo é uma verdadeira jornada para dentro da nossa escuridão interna. Perdoar-se requer uma viagem solitária rumo a experiências de dor, às vezes auto infringidas, às vezes impostas ao outro. Perdoar-se é um processo transformador que requer coragem de encarar de frente aspectos pouco honrosos de nós mesmos.
A falta do auto perdão, no entanto, pode ser responsável por deformações em nossa percepção acerca daquilo que merecemos como recompensa ou castigo. Não ser capaz de perdoar-se pode dar origem a doenças físicas e psíquicas extremamente sofridas e limitantes.
Na maior parte das vezes, nenhum de nós tem condições de passar por essa excomunhão de fantasmas internos, sozinhos. Talvez haja necessidade de se buscar ajuda profissional para encontrar a raiz das questões que andam emperrando nossas engrenagens afetivas.
A ajuda de um Psicólogo é um recurso extremamente valioso nessa visita de reconhecimento a sentimentos e circunstâncias que nos fizeram agir em desacordo com nossos valores éticos, ou apenas nos colocaram em situações diante das quais deveríamos ter feito escolhas mais equilibradas ou justas.
O processo que envolve a conquista desse perdão pressupõe aberturas de consciência e o alcance de novos padrões de pensamento, a partir dos quais nos tornamos capazes de sair da paralisia de enxergar apenas o problema e evoluir para o próximo estágio, em que alcançamos as habilidades necessárias para vislumbrar soluções e oportunidades de amadurecimento.
Essa libertação, ainda que dependa de algumas mãos para segurar a nossa durante o percurso, no fim das contas é uma responsabilidade intransferivelmente nossa. Só nossa! Sendo assim, pare de se machucar com pensamentos obscuros de culpa. Acredite que mesmo o que nos parece imperdoável, um dia acabará sendo dissolvido nas areias do tempo e transformado em algo menos destrutivo.
Perdoe-se! Ofereça a si mesmo uma nova chance. Abrace essa pessoa tão encolhida que anda morando escondida dentro do seu peito. Livre-se desse fardo antigo que o impede de acolher em sua vida novas experiências. E aproveite a leveza de uma alma perdoada para tentar reconciliar-se com aqueles a quem você acredita ter ferido. Se o outro vai perdoá-lo?! Bem… isso não depende de você. Isso é assunto para outro capítulo da sua vida.
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena de “Rainha do deserto”
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