Só permaneça onde existe reciprocidade

Imagem de capa: Skapace/ Shutterstock

Em tempos de amores líquidos, reciprocidade é fundamental.

É ela quem diz que estamos no caminho certo ao enviar um “bom dia” carinhoso àquela menina pelo WhatsApp, ou um áudio com uma coletânea bacana pelo Spotify. É ela que autoriza o comentário entusiasmado na foto do crush interessante ou a curtida frequente nos posts da gata fitness.

Mesmo não sendo adepta de estratégias e joguinhos de poder no campo amoroso, acredito no significado da reciprocidade. De só permanecer em relações onde não é preciso insistir para receber uma resposta ou implorar para ser valorizado como deveria.

Muitas vezes é preferível abrir mão de uma relação que julgamos importante do que continuar insistindo sem correspondência alguma.

O que vejo por aí é que tem faltado discernimento para entender onde não se deve insistir. Onde não vale a pena investir tempo, pensamento, vontade e intensidade na vã tentativa de se sentir acolhido por alguém que simplesmente não está nem aí.

Muita coisa é simples, a gente é que complica. Se alguém visualizou sua mensagem e não respondeu em dois dias, é porque não quis. Não faltou tempo, faltou interesse.

A gente sempre arruma tempo para o que está interessado. Para responder um bom dia, comentar uma foto original, curtir uma música, agradecer uma lembrança, desafogar uma saudade. Porém, nem sempre há interesse ou correspondência do outro lado. Nem sempre há vontade ou prioridade. E, mesmo tentados a entender e justificar, deveríamos apenas recuar. Dar dois passos para trás, silenciar, desapegar, desacelerar.

Porque são tempos líquidos. A fila anda muito depressa, formamos laços frágeis uns com os outros, vivemos incertos a respeito do que pensam e dizem sobre nós. Os aplicativos são atualizados constantemente e nos perguntamos em qual versão nos enquadramos. Diante de tudo isso, só estamos seguros onde

existe reciprocidade. Onde nosso afeto não é descartado e sim valorizado. Onde nossa expressão de afetividade e afinidade encontra abrigo e não sucumbe à necessidade de ser “atualizada”.

Encontrar reciprocidade num mundo que gira tão rápido é entender que alguém ainda nos dá a mão no meio de tanto turbilhão. É saber que diante do tempo que acelera tanto, ainda há o que se esperar dos vínculos que construímos e dos laços que firmamos.

Por isso não há o que se esperar dos laços que se afrouxam. Por mais que a gente se empenhe em manter certas amarrações, elas não se firmam. Nesse caso, o melhor é se desligar. Entender o fim de um tempo, a desistência de alguns planos, a frustração de certas expectativas. Não alimentar desejos em cima de terrenos frágeis, nem atribuir sentimentos a quem simplesmente não está do nosso lado.

Exercite o amor próprio e valorize os vínculos que construiu. Não permita que o tempo dissolva relações importantes, e preserve com carinho os novos laços que querem surgir. Porém, só permaneça onde existe reciprocidade. Não insista, não implore, não alimente relações unilaterais. Antes de tudo, seja amoroso com você. A vida é recíproca com quem se trata bem.

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Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.