Pesquisas apontam: quem passa menos tempo no Facebook é mais feliz

Imagem: oneinchpunch/shutterstock

O Facebook me intoxica. Me intoxica com reclamações de pessoas que não conheço. Com fotos de comidas que às vezes parecem vômito. Com vídeos de animais sendo maltratados. Com frases que nunca foram escritas por Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu ou Mario Quintana.

Me intoxica com seu patrulhamento – sempre tem um pentelho para dizer que você não deve pensar, postar ou escrever algo – e com a avalanche de informações misturadas que se encontram ali: bons artigos, boas músicas, resenhas, vídeos interessantes.

Se eu fosse clicar em todos os artigos que me chamam a atenção, ou fosse escutar num só dia todas as boas músicas que os bons amigos indicam, não faria outra coisa da vida.

Portanto, não são apenas os sem-noção que colaboram para a minha intoxicação. Os com-noção (e excelentes postagens) colaboram, e muito, porque sempre fico com a sensação de que perdi alguma coisa quando não clico ou não leio algo que supostamente acharia interessante.

Além disso, as mensagens inbox. Às vezes simplesmente não estamos com saco (nem tempo) para começar uma conversa por ali e o truque de não visualizar para o outro não ser notificado não surte o menor efeito, pois ele percebe que você está online (uma vez que posta ou curte postagens alheias) e subentende que você não leu sua mensagem porque não quis. E entre o seu direito de não querer responder e o sentimento de rejeição do outro nasce a sua culpa e o julgamento do outro de que você é arrogante, metido, insensível ou sei lá o quê.

As notificações em avalanche, os convites para aplicativos malas, a inserção forçada em grupos que nada tem a ver com a gente, as páginas que nunca curtimos, mas que nos são entubadas, as brigas políticas e a perseguição dos “politicamente-corretos” – tudo isso me intoxica.

No entanto, o que mais me intoxica é a sensação de que a minha vida, em alguns momentos, está menos interessante do que a vida do meu vizinho que está sempre viajando para lugares paradisíacos e, claro, postando muitas fotos; frequentando festas badaladas, bares, shows e restaurantes incríveis, comendo comidinhas refinadas e de chefes famosinhos em plena segunda-feira, indo a exposições interessantíssimas em plena quarta-feira, enquanto eu, pobre de mim, estou derretendo no calor do Rio de Janeiro e tentando escrever um novo livro.

Desde que li uma matéria que dizia que pessoas que passam menos tempo no Facebook são mais felizes passei a diminuir minha frequência na bolha azul.

” O Facebook ativaria um poderoso processo de comparação social. “Os indivíduos tendem a postar informação, fotos e anúncios que fazem com que suas vidas pareçam sensacionais. Exposição frequente a esse tipo de informação pode levar o outro a sentir que sua vida é, em comparação, pior”. Saiba mais

O resultado do meu afastamento virtual foi surpreendente. Não me comparar com ninguém (quem nunca?) me trouxe uma sensação de que a minha vida vai bem, obrigada, sem tamanho. Quando viajo, então, passo semanas sem entrar. E é tão bom desfrutar do que temos (o presente) e não do que não temos (a vida dos outros).

Quando nos concentramos em nós, nas nossas vontades, necessidades, vivências e aprendizado – e não no que devemos ser para o outro; no que queremos que outro pense de nós – há uma diminuição de ansiedade quase palpável (e tempo de sobra para aplicar em coisas que realmente nos são caras).

As famosas selfies não me incomodam. Algumas até me divertem. Gosto de ver meus amigos se sentindo bonitos em tempos onde quase todo mundo odeia a própria imagem – sim, porque para postar uma selfie a pessoa tem que estar se achando linda na foto.

Aliás, nunca consegui concordar completamente com os analistas de plantão que garantem que o excesso de fotografias em redes sociais é sinônimo de narcisismo crônico e/ou produto de uma sociedade narcísica. Ok, existe esse componente, isso é inegável, mas fecho com Ítalo Calvino, em seu conto A aventura de um fotógrafo, no livro Amores Difíceis (Editora Companhia de Bolso):

“ Somente quando põem os olhos nas fotos parecem tomar posse tangível do dia passado, somente então aquele riacho alpino, aquele jeito do menino com o baldinho, aquele reflexo do sol nas pernas da mulher adquirem a irrevogabilidade daquilo que já ocorreu e não pode mais ser posto em dúvida. O resto pode se afogar na sombra incerta da dúvida”.

Ou como aponta em outro trecho:

“ É só você começar a dizer a respeito de alguma coisa: ‘Ah, que bonito, tinha era que tirar uma foto!’, que já está no terreno de quem pensa que tudo o que não é fotografado é perdido, que é como se não tivesse existido, e que então para viver de verdade é preciso fotografar o mais que se possa, e para fotografar o mais que se possa é preciso: ou viver de um modo o mais fotográfico possível, ou então considerar fotografáveis todos os momentos da própria vida. O primeiro caminho leva à estupidez, o segundo, a loucura”.

Penso que a mania de fotografar tudo-o-tempo-todo, inclusive a si mesmo – além do advento dos telefones com máquinas digitais – tem mais a ver com uma necessidade de se esquivar do sentimento de transitoriedade (e do que é efêmero) do que qualquer outra coisa.

Voltando ao assunto inicial: por que não abandono a bolha azul se ela me intoxica tanto? Porque tem o humor de páginas como Artes Depressão, boas dicas dos amigos,  a sensação de que estou próxima de pessoas que não vejo há anos por morarmos em cidades diferentes, pela ótima ferramenta que é para divulgação do meu trabalho e, também, por ser uma boa distração em noites de insônia não produtiva.

O segredo, aprendi, é dosar – assim como se bebe água junto à ingestão de bebida alcóolica para não passar mal depois, se deve passar menos tempo no Facebook para não enjoar dos outros e de si mesmo.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.