Pessoas “invisíveis” ganham vida

A primeira lembrança que tive  quando li esse artigo do estudante de artes visuais Pedro Pezte no blog Ideia Fixa foi daquelas imagens que pesquisadores de fenômenos paranormais estudam pois acreditam que, em algumas fotos, aparecem “fantasmas”. Sim, foi um pensamento irônico mas que também remete ao estudo que o estudante Fernando Braga da Costa realizou na USP vestindo-se como gari e tornando-se invisível aos olhos dos colegas e professores.

No artigo de Pedro Pezte o que vemos são os trabalhos de Ramiro Gomez, artista visual que altera anúncios de revistas de luxo e fotografias, adicionando trabalhadores muitas vezes mal pagos que fazem toda a beleza da coisa possível.
Ramiro Gomes pinta jardineiros, empregadas domésticas, limpadores de piscinas e mais. Eles não têm face, e aparecem como fantasmas em frente às mansões e palmeiras ao sol. Gomez destaca a disparidade entre esses estilos de vida, o luxo em contraste com trabalhadores que mal ganham um salário mínimo.

Gomez experimentou isso em primeira mão quando trabalhou como babá para uma rica família de West Hollywood. Em entrevista à Fast Company, ele afirma: “Foi interessante a sensação de que iria acontecer quando eu estava saindo desse trabalho, que a família já tinha muito, mas que não foram capazes de me pagarem mais, eu levei isso de forma pessoal.”

Sabemos que os índices de uso de drogas e alcoolismo são maiores entre os “invisíveis”. Sabemos também que energia do homem precisa ser canalizada para algo que lhe forneça uma identidade, um papel social. A pessoa precisa ter uma ocupação em que se sinta produtiva e reconhecida. Precisa de reconhecimento de seu local no mundo e também precisa transmitir características que são só suas, o que caracteriza a herança cultural de um povo.

O trabalho de Ramiro nos mostra como os fantasmas sem rosto, logo sem identidade, sofrem pelo não reconhecimento social.

Acredito que muito da violência que vivemos não vem só da pobreza, mas da dor que não é expressa em palavras, da dor que é sentida profundamente na exclusão e na invisibilidade.
Josie Conti

 

Abaixo alguns trabalhos de Ramiro Gomez

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