Um vidro embaçado, empoeirado, ensebado. E tudo o que nele pousar, pouco a pouco, vai aderindo à mistura e adicionando mais um grau de dificuldade para se enxergar o que há do outro lado.
Uma lente vencida, há muito sem poder cumprir seu papel de facilitadora, descortinadora, iluminadora. Reduzida a somente um pedaço de material sem serventia e utilidade.
Uma lâmpada queimada, um espelho manchado, uma lanterna fraca, uma pessoa opaca.
Não defendo o brilho excessivo, até mesmo porque brilho demais também ofusca e confunde a visão e as interpretações, mas, uma alma opaca, impedida de detectar luzes, cores, brilhos, da mesma forma não oferece nada além do bege.
Pessoas opacas não percebem a luz que um sorriso gera, não distinguem as cores de um dia feliz, nem tampouco o brilho que uma outra pessoa emite e lhe oferece.
Pessoas opacas creem que a vida é vivida em uma única cor, que toda a mágica da combinação de cores é pura ilusão, que tolos somos todos os que se encantam com o arco íris.
Pessoas opacas resmungam, reclamam, nunca olham para o céu, muito menos para si mesmas. Não percebem o colorido do seu próprio mundo.
Abrem mão das palavras que clareiam ideias, dos desejos que colorem a rotina, dos abraços e carinhos que provocam uma chuva de brilhos na alma.
Pessoas opacas acordam, vestem seu semblante bege, colocam seus óculos com lentes vencidas, buscam suas imagens no espelho manchado, sequer percebem que a lâmpada do ânimo está queimada, mas seguem, preguiçosas, até a janela, para apreciar a vida através do vidro embaçado. E acham a vida entediante…