Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet

Ontem descobri na página de um amigo o artigo que reproduzirei abaixo. O autor, português, discorre sobre como se comportam as pessoas que passam os dias procurando erros de grafia em textos alheios numa suposta superioridade. Aqui, por exemplo, nós reconhecemos que erramos muito. O problema é que quem escreve ou faz suas colocações sobre os erros, na maioria das vezes, apresenta profundo desdém e deprezo por textos que apresentam algum tipo de erro e acabam desvalorizando todo um texto e trabalho do site. Outras vezes, polidamente a pessoa indica a falhas por duas ou três vezes antes de oferecer seus serviços profissionais em uma atitude de delicadeza claramente manipulatória. E tem os piores que são grosseiros e ainda oferecem seus serviços. Só um masoquista para contratar um tipo desses, né.

Agora, ajudar por ajudar, falando com educação e respeito e sem querer nada em troca são casos raríssimos. Seria maravilhoso que mais pessoas nos corrigissem apenas por gentileza.

Apresento o texto com o qual me identifico profundamente. E, se a carapuça se ajustar à alguém, espero que pelo menos sirva de reflexão.

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet

Por Raiden, do blog Ritual do Habitual

Não existe grupo mais irritante na Internet que o composto por aquelas pessoas que patrulham, incansavelmente, redes sociais, fóruns de discussão, blogs, etc. à procura de erros gramaticais. Estes cavaleiros da linguística, estes cruzados de Camões, pensam estar a fazer um serviço à humanidade ao retificar palavra após palavra, sem se aperceberem que o spell check faz o seu trabalho automaticamente e que, se existe um erro gramatical, ele existe por alguma razão — mesmo que esta razão seja tão fraca como não se levar muito a sério o que se escreve.

Sieg heil!

O que torna estes nazis da gramática particularmente irritantes é o facto de terem razão. Isto faz com que o aborrecimento de quem é corrigido seja ilógico. Afinal, se formos corrigidos, devíamos até agradecer à pessoa, certo? Devíamos pedir desculpa por ter ferido as retinas de tão alta referência linguística como certamente é este estranho que emerge das profundezas da Web, com a sua caneta vermelha metafórica, e que nos risca um afiado “X”, também metafórico, no que quer que estejamos a tentar comunicar.

Mas nós não somos pessoas totalmente lógicas, pois não? Nós temos emoções, caraças! E as nossas emoções perguntam-nos: “quem é que este gajo pensa que é?”

O problema destas mentes brilhantes é que escondem as suas verdadeiras e egoístas razões atrás de um conceito que é, geralmente, defendido: a coerência gramatical.

Antes sequer de pensarmos nas tais razões, vamos só pensar noutra coisa durante um momento, está bem? Quem é que inventou a gramática? Será que foi algum iluminado, há milhares de anos atrás, que comeu uns cogumelos que não devia, teve a trip da sua vida, e viu um mundo em que ninguém se atreveria a fugir a um conjunto de regras completamente estáticas — regras essas que ele escreveria detalhadamente algures, assim que aquele coelho da Páscoa gigante parasse de olhar para ele de lado?

Claro que não! A linguagem é orgânica, é feita pelas pessoas. A linguagem foi criada como uma ferramenta, nada mais. Muitos “erros” gramaticais deram origem a novas palavras ou a palavras mais simples que usamos agora sem questão. Só com variações na norma é que qualquer evolução é possível.

A linguagem é uma das últimas coisas não institucionais que podemos usufruir, povo! Revoltemo-nos pelo nosso direito de cometer erros!

O facto de, ultimamente, ser o governo que decide como a linguagem evolui, deixa-me, portanto, aborrecido. Está-se a decidir, de uma forma artificial, como evolui uma inteira língua comum — a nossa maneira de trocar ideias mais antiga ( sim, sim, a subida do TSU também é grave).

Mas, sim, infelizmente, poucos sabem do conceito de evolução linguística. É mais fácil ir ao Google confirmar se realmente se tem razão antes de corrigir um infeliz qualquer — o que nos leva de volta às razões egoístas que referi em cima.

Caros corretores compulsivos: vocês não querem saber minimamente da manutenção da linguagem. Vocês não querem saber se eu corrijo o que escrevo ou não. Vocês sabem bem que corrigir alguém na Internet é inútil. A verdadeira razão que vos leva a corrigir os outros é a pequena sensação de controlo que ganham com isso: “Ah, sou mais inteligente que este rapaz que não conheço de lado nenhum porque ele cometeu um erro que eu consegui identificar, lol, rofl, me gusta, true story, epic win! xDxD”

A sério? Tudo isto por uma sensação vazia de superioridade? Espero que valha a pena.

É só a impressão com que fico de vocês. Claro que pode ser um mecanismo de defesa primitivo para me sentir melhor com o facto de ter cometido um erro. Quem sabe?

Quem sabe?

E é isto que me irrita — saber que o meu erro está a fornecer prazer mesquinho a alguém, mas não poder responder porque essa pessoa até tem alguma razão. Daqui em diante, limitarei-me a linkar este post — efetivamente dando a minha opinião sobre o assunto e fazendo publicidade desavergonhada.

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As publicações do CONTI outra são desenvolvidas e selecionadas tendo em vista o conteúdo, a delicadeza e a simplicidade na transmissão das informações. Objetivamos a promoção de verdadeiras reflexões e o despertar de sentimentos.

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