Ontem eu fui assistir a um show de um artista que gosto muito, daqueles que você realmente não hesita em sair de casa numa noite fria e chuvosa, porque o prazer de ouvi-lo é uma certeza.
Enquanto ele cantava e tocava lindamente o seu violão – e só ele e o violão bastam para encher um local de alegria e melodias – eu me percebi dando longas e demoradas piscadas. Piscadas sem pressa nem pressão, sorridentes, felizes. E, nessa hora, entendi como algumas expressões corporais são tão sutis e tão significativas ao mesmo tempo. Ninguém reparou, somente eu, e confesso, depois de algumas boas repetições. E, quando me dei conta, entendi o prazer de concordar com a minha alegria piscando os olhos, como se eles suspirassem.
Penso que fazemos isso um milhão de vezes na vida, mas não nos damos conta. É tão importante quando dizer para o outro que você entendeu a mensagem dele, é notar que isso é reafirmado por um gesto mínimo, mas delicioso. Melhor do que falar sem parar, repetir até a exaustão, retomar um assunto findo, é demonstrar com o brilho do olhar o que as palavras nem são capazes de expressar. Uma piscada lava os olhos e eles abrem mais brilhantes do que antes.
Mas, e quando o assunto é ser entendido? E quando chegamos naquele dilema de querermos muito ser compreendidos, mas o outro lado insiste em nos dizer “Não te entendo, não te compreendo, não consigo interpretar o que vem de você.”
Demoraria tempo demais inventar um novo vocabulário com palavras próprias para as nossas comunicações particulares, para as questões específicas de um diálogo.
Penso que, nessas encruzilhadas linguísticas, a solução é: Olhar nos olhos e piscar, não uma, mas duas vezes. A primeira para constatar que existe uma real atenção, e a segunda, para uma reflexão humilde, sem exasperação, sem aborrecimento. A segunda piscada mais longa, dá tempo para uma reflexão sobre como estamos nos comunicando e que estamos realmente querendo. E se acompanhada de uma respiração profunda, evita terríveis mal entendidos e azedumes. Nesse ínfimo tempo, ambos pensam e analisam se a conversa segue ou finaliza. E, por fim, após a segunda piscada, certamente virá uma inspiração para desatravancar a conversa, sem gritos, sem “esquece”, sem deixa para lá”.
Para mim, a partir de agora, serão regras:
Pisque uma vez para mostrar que entendeu, que aceitou, que bem recebeu.
Pisque duas vezes para ser entendido, para fazer a parada técnica que os diálogos às vezes pedem, para melhorar os argumentos.
E se as dicas derem certo, dê aquela piscadinha de um olho só para confirmar.
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