Pode quebrar a cara, moça, só não pode desistir de amar.

Ah, o amor. Tão bom senti-lo, tão amargo afastá-lo. Imponente, arrebatador, gigante, inexplicável. Descrito em poemas, filmes, romances, o amor move a história de cada um de nós, bem como a roda da humanidade, acordando nossos sonhos e enterrando as ilusões. Preenche tão prazerosamente nosso ser, que, quando fere, assola nossos sentidos com força dolorosamente insuportável. E quantas vezes então prometemos a nós mesmos nunca mais amar de novo.

Não escolhemos a quem amaremos, pois independem de nossa razão o sentimento de carinho, a química, a completude que nos toca, quando nos encontramos com certas pessoas. Até poderemos tentar nos forçar a gostar de alguém, para que consigamos conviver pacificamente, na escola, no trabalho, nos ambientes sociais, porém, certas pessoas entram em nossos corações sem pedir licença, sem senão nem por quê, como se já estivesse reservado a eles um lugar especial dentro de nós. Amor que adentra, preenche, amor tempestade de verão, que vem com tudo.

Outros nos conquistam aos poucos, de mansinho, sorrateiramente, à medida que vamos conhecendo melhor. Não fazem alarde, não se destacam em meio aos demais, mantendo a autenticidade ali, silenciosamente, mas sempre presente. Quando nos damos conta, eles já estão dentro de nós, fazendo parte do nosso melhor, assim do jeitinho que são. Nada forçam, nunca se negam, sempre a postos. Amor que se constrói, que se conquista, que se instala e ponto. Que vem feito música.

Inevitável, porém, infeliz certeza, encontrarmos o vazio, a dor, as lágrimas, para além da afetividade gostosa que o amor traz. O tempo esfria as coisas, distancia, revela. O tempo descortina o véu das ilusões, pois ele anseia pela verdade – e ela então chega. Chega muitas vezes de forma desagradável e antipática, mas sempre transparente. E é assim que iremos reafirmar algumas certezas e amargar o que não era, quem nunca deveria ter sido é nada junto de nós.

Infelizmente, traremos para junto de nossas vidas quem nos decepcionará, quem nos trairá, quem não nos ama, porque não se ama, porque não sabe amar. Ficaremos arrasados, descrentes de tudo, rebelando-nos contra o amor, tentando expulsá-lo da gente, fugindo e negando. Pois é, será tudo em vão. O amor não pede permissão, simplesmente acontece.

Sim, iremos amar e amar, de novo e de novo, à revelia de nós mesmos, felizmente. Porque mais triste do que chorar a desilusão amorosa é passar o resto de nossos dias sem partilhar amor. Não desista de amar. Quebre a cara, mas não deixe de amar. Alguém haverá de te devolver inteireza, verdade, riso e lágrima na medida certa, para sempre. É assim que tem de ser e assim será.

Imagem de capa: sergey causelove/shutterstock







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.