Um médico publicou em seu facebook uma foto com a legenda “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Na foto, o médico segurava uma receita com os dizeres “não existe peleumonia e nem raôxis.” Ele estava se referindo ao seu paciente que usara estas palavras em uma consulta.
O post demostrando preconceito linguístico suscitou debates na internet. Diversas opiniões emergiram e você, mesmo se não sabia do caso, já deve ter a sua também agora.
Lembro-me de pipocarem quadros pela Televisão e pelo Youtuber rindo de algumas redações do ENEM, dos inúmeros posts falando de como é difícil flertar com alguém na internet que não sabe diferenciar mais de mas, diversas situações que revelam como a maior parte de nós enxerga a Educação; hostil e reprobatória.
Perceba que eu falei de nós, sim, de um Nós que me inclui. Não sei você que está me lendo agora, mas eu por diversas vezes fui esse médico aí. Como era engraçado rir do linguajar da minha avó! Até que um dia eu comecei a me perguntar porque era engraçado rir da vó falando ‘triliça’, falar que doeu meu ouvido alguém falando ‘truci’ e evitar postar algo na internet por medo de desvios gramaticais normativos.
Nas minhas perguntas, pude perceber quanto o modelo educacional da minha formação me ensinou coisas danosas no convívio social. Estudei em escola pública e por questões pessoais precisei terminar o Ensino Médio usando o tal do antigo supletivo ( lembra? Supletivo, supletivo…), hoje chamado de EJA. Lá mesmo sendo lugar de gente mais humilde, eu aprendi a ser excludente com minhas origens e assim a perpetuar discursos elitistas.
Veja bem. Um sistema educacional, seja em qual escola for, não nos ensina informações desconectadas, cada aprendizado modela o modo como nos relacionamos com os outros, até mesmo nas paqueras mais despretensiosas.
Nós ainda rimos muito da falta de informação dos outros e vamos continuar até que pensemos mais numa Educação além muro de escola e colaborativa. Aprendemos gramática normativa porque precisamos falar “corretamente” e esquecemos que falar certo é entender e ser entendido.
Ainda achamos tolo aquele colega de sala desconhecer os novos termos das discussões sociais, questionamos o doutorado do professor que apanha do datashow e mais grave ainda, estamos inseridos num sistema que não compreende que um diploma de doutor não faz professor.
Decidir por um modelo educacional acolhedor e inclusivo é duro, pois envolve permitir o erros dos outros, seja lá qual outro for, e colaborar para que cheguemos ao pódio juntos, ao invés de vencê-lo. Mesmo um coração sendo muito humilde, é sempre mais fácil desprezar. Porém, se este é o caminho para um mundo mais sadio e harmônico, onde o quanto uma pessoa ser amável é mais importante do que saber diferenciar “mais” de “mas”, deve valer a pena.
Por alguém que te ame depois dos graves erros gramaticais, de todas essas vírgulas mal usadas, dos erro de plural, dessa concordância nominal desgraçada que você nunca entendeu bem, da crase no lugar errado, de se dizer fã daquela banda sem saber a formação completa e o disco mais vendido, de não fazer ideia quem é esse tal de Donnie Darko…
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