Por favor, não me deixe apenas a mentira como alternativa!

Porque mentir é da vida, acontece, sai involuntariamente algumas vezes. Mas a reação esperada é o arrependimento da mentira, a confissão, perdão, libertação, o que couber na situação.

Mentira não é primeira opção para nada que pretenda ser verdadeiro um dia. Mentira é a cartada rápida, a palavra que sai firme sob o comando de uma cabeça atordoada. Mentir é tomar um analgésico de efeito rápido, cujo efeito também vai embora rápido. A consciência promove a desintoxicação e só sobra o mal estar depois da limpeza.

Por vezes existem perguntas cujas respostas não estamos preparados para encarar, mas também não saberemos tolerar as mentiras que virão em lugar. São as perguntas que ainda não estão prontas para distribuir seus frutos.

A gente força uma conclusão, quer na hora, mas a coisa vem com ranço, com a casca verde e sem néctar algum. Daí nasce a mentira que, neste caso, embora bem intencionada, acaba por azedar ainda mais a mistura.

Há dúvidas que só estão vivas porque são dúvidas. Quando tentam virar certezas, frágeis e vacilantes, recorrem à mentira para fortalecer os argumentos.

Ilusão é uma amiga íntima das mentiras. Ela é daquelas amigas que tudo pede emprestado, que acha que lhe cai bem tudo o que pertence à outra. De ilusão em ilusão vai crescendo o mito da mentira que consola e faz carinho nas almas que não querem sofrer, não cogitam encarar a verdade ou o que ela pode representar.

Eu teria muitas mentiras para contar, outras tantas para inventar, algumas ainda para sofisticar, porque todos nós somos bons nisso, mas, nessa altura, querendo muito assinar meu nome com liberdade e sem esmagar a ponta da caneta no papel da vida, tenho repetido um apelo, como se um mantra fosse, primeiro a mim, depois ao mundo:

Por favor, não me deixe apenas a mentira como alternativa!
Respeite as minhas verdades, mesmo que frágeis, ou, os vazios, ainda sem uma certeza que se encaixe nelas confortavelmente.

Imagem de capa: Rock and Wasp/shutterstock







Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.