Já cruzei o caminho de muita gente interessante, mas não posso dizer que todas foram genuinamente sinceras. E quando digo sinceras, não falo sobre transparência nos pensamentos. O meu desgaste está muito mais relacionado sobre a falta de pessoas sinceras de coração. Daquelas que não se importam em expressar o que estão sentindo, livres das obrigações e joguetes emocionais. Essas, pergunto, por onde andam?
Ultimamente, parece que qualquer pessoa disposta e corajosa a entregar logo de cara aquilo o que sente, é vista como trouxa, fraca e incerta. Os pessimistas logo tratam de afirmar, “vai sofrer muito se ficar enxergando a vida dessa forma”. É nesse exato momento em que trato logo de discordar. Não concordo com o maltrato feito contra gente honesta, que nada mais quer além de encontrar alguém que carregue tamanha afinidade afetiva. Você me entende? É afinidade, sim. É sintonia ter a sorte de esbarrar com quem se entrega, pelo sim ou pelo não, no que diz respeito aos próprios laços. Porque é muito fácil fazer julgamentos, apontar mentirosos e encaixar um discurso a favor dos inteiros quando, no dia a dia, quem se apresenta é a personificação das tantas metades parafraseadas por aí.
Confesso, é cada vez mais cansativo manter a paciência para argumentar, insistir e até acreditar em alguém que não esteja com o coração sublocado por tantos medos. Porque, bem lá no fundo, isso tudo parece medo. Medo de ser feliz, contemplar e acompanhar outras histórias. Parece preguiça da parte delas e talvez seja. Mas também tenho o direito de cruzar os braços, olhar numa outra direção e, na mais desenfreada das atitudes, seguir o meu rumo em busca de novos começos. Claro que depois de um certo tempo, meio que as coisas entram num looping. Você não conhece a sinceridade, decepciona-se e então, parte. Daí o coração fica como? É o processo de esfriamento da aorta.
Não sei exatamente o tanto que leva para sentir novamente. Varia de pessoa para pessoa. Enquanto isso, o mundo continua girando. Pessoas entraram e saíram de relacionamentos. Mas e os vínculos forjados pela liberdade e confiança de assumir em gestos e palavras o que está sendo verdadeiramente sentido? Poucos sabem. Poucos provaram. O gosto existe. Está aí, em algum lugar, dentro da fala de alguém, esperando reconhecimento e admiração.
De repente, um processo seletivo se faça necessário. Não para dividir em categorias ou atributos jocosos. Quem sabe, simplesmente para adentrar um pouco de leveza, percebendo e permitindo a chegada de gente interessada nos instantes sinceros, sem rodeios ou medidas prévias. Gente que aproveita oportunidades para entrelaçar sinceridades e corações de forma clara, objetiva e sadia.
Enfim, permaneço firme e ciente dessa jornada peculiar. Continuo cruzando caminhos aleatórios e recortando novos pedaços da minha própria companhia. Às vezes, o dia termina bem e coleciono um par de boas memórias e sensações. Noutras vezes, nada sobra. Mas é assim mesmo. Para saber por onde andam as pessoas sinceras de coração, saltos precisam ser dados. De dentro para fora. Sempre de dentro para fora. O resto, vai saber, pode terminar em amor.
Imagem de capa: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) – Dir. Jean-Pierre Jeunet
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