“Por onde for, quero ser seu par.”

Imagem de capa: Katya Suresh/shutterstock

Nesse mês de junho proliferam as emoções e essa é uma frase bastante escolhida pelos apaixonados.

Acho lindas essas frases de espelhamento gemelar que intencionam expressar o amor entre duas pessoas.

Mas vale uma reflexão sobre amor e amor.

Um par de vasos, por exemplo, envolve simetria.
São dois vasos idênticos.
Ambos se espelham um no outro.
Igual, igual, igual.

Existem casais assim?

São raros. A própria biologia se encarrega de criar pessoas diferentes.
Não há duas pessoas iguais.

Qualquer casal, por mais unido que seja, conserva a identidade bem individualizada.
Os gostos.
As preferências.
A praia e o campo.
A novela e o futebol.
E sim, o Jornal Nacional, juntos. Se um deles não preferir a Band.

Uma quadrilha, por exemplo.
Um bolero de Ravel bem dançado.
Um tango em Buenos Aires.
Todas essas musicalidades também envolvem o conceito de par.
Um conduz, o outro se deixa conduzir.

Difícil pensar que esse conceito possa ser aplicado na vida de um casal: você conduz e eu me deixo conduzir.

Até porque existem matérias dominadas por um deles, e outras dominadas pelo outro.

Quem entende mais, deve ser o condutor. De onde se conclui que a condução se alterna.

O conceito romântico de “par” fica melhor descrito em termos de parceria.

As parcerias se estabelecem quando um ser que pensa e conserva a sua identidade, se junta a outro ser que pensa e conserva a sua identidade,

e ambos convergem o olhar para a mesma direção,

e caminham juntos, não por todas as horas do dia, não “por onde for”, mas por tempo suficiente para se separarem, quando um quiser ir ao jogo, e o outro ao cinema,

sem que isso se torne um drama, ou uma guerra declarada.

Nesse sentido real, profundo, e verdadeiro as parcerias se estabelecem e podem durar até que a morte os separe.

Mesmo que um deles goste de sair, bater papo, frequentar festas, e o outro goste de ficar em casa, lendo um livro.

Mesmo que um deles não goste de viajar, e o outro faça viagens regulares a cada ano.

Qual o problema?

O problema existe apenas se você sentir que precisa de um par.
Um par para estar o tempo todo ao seu lado.
Um par que funcione como vaso
ou como partner de uma dança.

Mas o problema não existe se você internalizar o conceito de parceria.
Que é muito mais amplo.
Que envolve desprendimento.
Que abre mão do egoísmo.
Que respeita as diferenças.

Você pode ser o meu parceiro, ainda que não seja o meu par por onde eu for.

Eu posso ser a sua parceira, ainda que você não seja o meu fiel seguidor.

Basta que entre nós haja a confiança mútua de que em todos os lugares,
por onde estivermos,
conservemos a certeza de que somos parceiros na alegria e na tristeza,
convergindo os nossos interesses
e nossos esforços para o mesmo fim.

Nesse sentido, eu não tenho um par. Tenho um parceiro.

Entre nós prevalece o vínculo forte de uma parceria que dura anos, e nos leva a remar o barco na mesma direção, porque dentro dele está a nossa família, o nosso patrimônio, os nossos filhos, e os nossos netos.

Se alguém falar mal dele, eu brigo até a morte para defende-lo,

e se alguém falar mal de mim, presumo que ele faça o mesmo.

Eu até posso falar, mas não permito que mais ninguém fale na minha presença.

Posso, mas não falo.

Ensinei os nossos filhos a o amarem muito mais do que peço que me amem.

O pai dos meus filhos é o Pai de todos nós, inclusive meu.

Não é um modelo a ser seguido.

Sei que há outros, mais românticos.

Mas posso afirmar que tem funcionado em realidade, e em verdade.

Quem não tem um par, não azede o leite por conta desse conceito romântico.

Você tem um parceiro(a)?

Se tiver, comemore!

As parcerias sobrevivem a tudo, até a eventuais separações.

O casamento pode acabar e a parceria verdadeira se manterá até que a morte os separe.

Ana Maria Ribas Bernardelli

Estudante de humanas-idades, cidadã do céu e da terra, escritora por compulsão, leitora de letras, de pontos, de reticências, e de linhas, interventora de paisagens, solitária por opção, gregária por necessidade, gosto de músicas, filmes em que só as pessoas acontecem, documentários, biografias, e todas as obras de Clarice Lispector e de Watchman Nee. Vivo a espiritualidade, sem religião. Não tenho afinidades com rituais e com scripts que se repetem. Amo a liberdade, os animais, as plantas, os velhos, as crianças, e todos os seres que se sentem estranhos no ninho. Fujo de superficialidaes, e não tolero nenhum tipo de injustiça, crueldade, ou tirania. Adoro a Deus e a ele quero servir. Escrevo para organizar a vida, para aguentar o tranco, e em cada texto meu, você me encontrará. Espero que eu também lhe encontre no meu email, no meu site, e nos meus endereços nas redes sociais. Feliz por estar com vocês!

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