A palavra decepção vem do latim “deceptio”, que significa engano ou dolo. E todos nós já perguntamos por que a decepção dói tanto? Porque ela é um sentimento amargo, onde o nosso corpo e mente não conseguem digeri-lo.
Não tem jeito, as decepções estão presentes em nossas vidas, algumas são mais leves e outras mais severas e todas deixam “cicatrizes”, prejudicando o nosso equilíbrio, que se somatiza na forma de enxaqueca, tensão muscular, mágoa, angústia, etc.
É uma realidade psicológica, resultante de expectativas que criamos em relação a certos indivíduos, objetos e situações. Entretanto, não devemos deixar que o engano ou dolo cause desconfiança de todos, caso contrário viveremos na defensiva.
Podemos citar três exemplos, a decepção amorosa, uma vez que confundimos a ilusão da paixão com a realidade, a decepção com um amigo ou amiga que nos faltou com o respeito e na política, o cenário é frustrante, tomado por mentiras, corrupção e uso da máquina pública para atender interesses pessoais.
Isso são os reflexos de uma sociedade hipercompetitiva, que banalizou a desilusão e o sofrimento, como marcas do nosso modo de viver. O filósofo Gilles Lipovetsky classificou de sociedade da decepção, que cria uma atmosfera de ansiedade, na qual o conceito de felicidade ingressa em uma condição paradoxal, em que o entretenimento e o bem-estar dividem espaço com um intenso mal-estar subjetivo.
Segundo Lipovetsky, o nosso tempo caracteriza-se pela alta incidência da experiência frustrante, no âmbito público e privado, que diz respeito ao enfraquecimento das instituições coletivas, das formas religiosas e políticas, que evidencia que vivemos em uma era da superabundância de ofertas e da desestabilização das culturas de classes, que agora está em todos os lugares e em todos os níveis sociais.
Por isso, que a decepção nunca vem de surpresa e os sinais são claros, contudo, preferimos o caminho mais fácil, alimentando a ilusão e aumentando a altura do “tombo.” Sabemos que é complicado viver em uma sociedade assim, mas não significa que temos que fechar as portas para novas oportunidades, bem como não podemos responsabilizar os outros por nossa ingenuidade e falsa expectativa.
No entanto, quando a decepção se torna crônica e patológica na vida dos sujeitos, o melhor é buscar a psicoterapia, que é um ambiente livre de julgamentos. Por fim, precisamos estar –permanentemente – conscientes de que as pessoas podem falhar conosco, porém, somos igualmente falíveis e podemos também decepcionar os demais, lembrando que “todo sonhador está condenado a viver um grande número de decepções”, como dizia o filósofo Jean Paul-Sartre.
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Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista
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