O direito à privacidade é uma ideia antiga. O livro do Gênesis da Bíblia, narra que Adão e Eva viviam nus no paraíso, mas quando comeram o fruto proibido, eles passaram a cobrir suas genitálias, sentindo o dever de proteger sua intimidade. Na mitologia grega, a deusa Diana castigou o filho do rei Cadmo, Acteón, por tê-la visto nua, violando sua vida íntima.
Assim, no decorrer da história, a vida privada foi se consolidando como uma necessidade vital, que a partir dos séculos 17 e 18 tornou-se um direito à reserva de informações pessoais. A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas reafirmou esse direito, que não pode sofrer ataques.
A Constituição Brasileira e o marco civil da Internet protegem a inviolabilidade à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, punindo a violação desses direitos. Hoje, as tecnologias se apropriam dos nossos dados, como usuários de computadores, aplicativos, celulares e através do cerco de câmeras por todos os lados, que deturpam o conceito de privacidade.
Aliás, os nossos costumes, hábitos, problemas de saúde, os carros que temos, o quanto de dinheiro gastamos, quem são os nossos familiares e amigos, qual a nossa orientação sexual, crença e opinião política, etc, podem ser espionados por empresas, que compartilham essas informações entre si e com governos.
Desde então, a intimidade era um espetáculo em si com a explosão de reality shows e a exposição da vida de famosos, que ocorre por estratégia de marketing ou por invasão de seus dados pessoais.
Porém, na era digital cada um pode ser o protagonista de seus shows de intimidade, que permite exibir os amores descartáveis, o corpo em estado de nudez, delírio, topor e morbidez , onde tudo é percebido por falta de pudor ou descuido.
Essa superexposição nos afasta da realidade do que somos, que não deixa espaço para subjetividade, que gera uma insegura narcísica e uma falsa ilusão de que o olhar do outro é importante para garantir a nossa existência, o que afeta à saúde mental na sociedade.
A nossa vida particular não deve estar sob o controle de empresas, governos e religiões, pois ela nos protege dos abusos de poder e cobre – os olhos da justiça – para que nos trate com igualdade e imparcialidade. É por esses motivos que a privacidade deve ser uma preocupação política e não apenas individual.
Para que a democracia seja forte, precisamos estar no controle dos nossos dados e da vida pessoal, se não perderemos a capacidade de pensar e governar a nós mesmos. Apesar disso, devemos fazer a nossa parte, não postando mensagens, imagens, vídeos e áudios que violem a privacidade alheia.
Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
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