Por que muitos pais bons têm filhos difíceis?

PE. HENRY VARGAS HOLGU

Segundo o velho ditado, “Tal pai, tal filho”. Mas há outro ditado não menos verdadeiro: “Toda regra tem exceções”.

Geralmente, de bons pais, de pais bem formados e educados, saemfilhos bons, bem formados e educados; mas, infelizmente, esta regra acaba caindo por terra em alguns casos, quando os filhos se apresentam com personalidade rebelde.

Nos relatos históricos, desde a época bíblica, vemos reis maus que tiveram filhos que governavam com justiça e sabedoria; e igualmente houve reis justos que tiveram filhos que governavam com abusos e prepotência. Como isso é possível?

Como explicar os filhos rebeldes?

De modo geral, podemos destacar algumas possíveis causas deste fenômeno:

1. Um fator é que os pais de família, ainda que sejam boas pessoas, corretas e do bem, podem ser (sem má intenção, logicamente),péssimos educadores ou formadores. É muito difícil transmitir valores, virtudes e códigos de conduta, e às vezes o bom exemplo não é suficiente.

2. Os filhos que manifestam comportamentos difíceis são facilmente reconhecíveis desde que nascem. Quando bebês, costumam acordar muitas vezes durante a noite, chorando muito. Também costuma ocorrer de tão terem meio-termo: vão de um extremo ao outro. Suas alegrias são transbordantes, mas, de repente, ficam bravos e são incapazes de controlar sua ira e sua raiva.

3. Cada filho ocupa um lugar diferente na realidade familiar e mantém relações diferentes com cada membro. Não é a mesma coisa ser o primeiro, segundo ou terceiro filho, porque as circunstâncias de uma família mudam constantemente.

4. A rebeldia também pode começar na infância, quando os pais e avós cometem o erro de “comemorar” certas atitudes, palavras e gestos equivocados, levando a criança a pensar que o que está fazendo é o certo.

5. Em outros casos, mesmo com a melhor intenção do mundo, os pais acabam manifestando, ainda que inconscientemente,preferência por algum dos filhos, o que pode gerar a rebeldia, unida a ciúme, inconformismo ou agressividade.

6. Às vezes, ainda que não haja preferências por parte dos pais, um dos filhos acaba mal-interpretando certas situações como se fossem contra ele, o que gera más reações, levando ao mesmo círculo vicioso.

7. Outra das possíveis explicações está em que os pais não sabem lidar com os primeiros caprichos infantis dos filhos, e acabam querendo agradá-los sempre e em tudo. A criança, se não for corrigida e não assimilar bem a educação recebida, vai crescer mimada.

8. Há pais que só prestam atenção no que os filhos fazem de errado. Passam o dia todo dando broncas, jogando na cara deles o que fizeram de ruim. Isso pode gerar baixa autoestima e raiva nas crianças.

9. Outro dos fatores está inclusive nos próprios irmãos ou nas crianças do bairro ou escola, que ficam apontando os defeitos da criança; esta vai se fechando em um comportamento negativo, especialmente se for muito sensível.

10. Em outros casos, na maioria das vezes, o rebelde é o filho do meio, que não tem as responsabilidades do mais velho (a quem os pais costumam usar como exemplo ou colocar como responsável pelos outros irmãos) nem toda a atenção do filho mais novo (que costuma ser mais mimado que os outros). O filho do meio, neste caso, pode crescer com ressentimentos.

11. Muitos pais consideram que a melhor forma de educar os filhos é impondo regras muito rígidas, quase ao estilo militar, mas isso é errado. Os pais rígidos demais acabam criando filhos retraídos e amedrontados, ou desrespeitosos e rebeldes.

12. Em outros muitos casos, os filhos difíceis são reflexo de certas anomalias familiares, ou seja, são como a ponta do iceberg, pois tornam visíveis os problemas latentes e reprimidos na família. O filho rebelde acaba sendo o bode expiatório e distração do verdadeiro problema familiar.

13. O contexto social em que vivemos não ajuda a educar os filhos. Esta sociedade violenta, competitiva, hostil, queiramos ou não, influencia muito negativamente as crianças, a umas mais que a outras, dependendo das circunstâncias.

O que fazer?

Seja como for, quanto antes for buscada a solução, melhor – começando pela identificação da(s) causa(s). Quanto antes for feita a intervenção, menor será o sofrimento da família e sobretudo do filho.

Uma ajuda profissional pode contribuir para identificar o problema. Se este estiver na família, é preciso modificar a dinâmica familiar. Esta mudança é difícil quando os membros da família se consideram isentos de qualquer responsabilidade, negando ter algo a ser revisto. É muito mais fácil quando os pais, e inclusive os irmãos, se envolvem.

Independentemente da causa e da suposta rebeldia, sempre deve haver comunicação entre os pais, para esclarecer as coisas o quanto antes com o filho – daí a importância da observação.

Se a causa da rebeldia realmente não está nos pais, juntos e privadamente, precisam falar com o filho sobre o que acontece, sobre seu comportamento, para que ele possa ver todas as qualidades que tem para superar seus problemas.

É necessário fazer tudo isso com carinho, mostrando que estas correções são feitas por amor, e depositar um voto de confiança no filho.

Os pais nunca devem classificar seu filho como “o filho rebelde”, “a ovelha negra”, porque fazer isso pode trazer consequências ainda mais negativas.

Isso desespera e isola ainda mais o filho difícil, pois ele procurará ajuda e apoio fora do núcleo familiar, e provavelmente nas pessoas incorretas. Os pais nunca podem descuidar dos seus filhos, confiando sua educação a terceiros.

O que acontece se o problema não for solucionado?

Estes filhos podem ter problemas de comportamento e também dificuldades para lidar com suas emoções, e sua tendência será mostrar-se extremamente críticos consigo mesmos.

Em outros casos, os filhos desenvolvem transtornos depressivos, dependência química, até degenerar em transtornos de personalidade.

Por outro lado, costuma achar que não merecem ser amados, já que as mensagens que receberam da sua família ao longo dos anos é que só trazem problemas, só causam dano, suas reações são sempre inadequadas, estão sempre exagerando etc.

Para a psicologia positiva, ao falar do comportamento das pessoas, costuma-se utilizar três palavras que tendem a ser confundidas: personalidade, caráter e temperamento. Mas são termos muito diferentes.

O temperamento se baseia na herança genética. O caráter é construído ao longo da vida, a partir da sua experiência e da cultura em que se encontra. O temperamento e o caráter são os elementos que formam a personalidade do indivíduo.

Assim, o DNA e o contexto de vida têm um papel primordial na personalidade de cada um. Não podemos negar os genes de uma pessoa, mas tampouco seu ambiente externo.

No entanto, felizmente, existe o livre arbítrio, que, baseando-se na razão, permitirá que cada um de nós tenha capacidade de escolher seu caminho.

A pessoa não pode escolher seu destino, pois sempre haverá eventos fortuitos que podem mudar o rumo da vida, mas sempre terá capacidade de levantar-se, seja qual for a situação, e prosseguir até o final.

Pais que são bons, apesar de eventuais erros educacionais, não têm culpa de que seu filho adulto seja uma pessoa difícil.

Culpar os pais pela personalidade difícil do filho, quando foram bons, normais e bem formados, é um erro. Há muitos fatores que entram em jogo na formação da personalidade. Um filho não é preguiçoso na escola necessariamente por culpa dos pais, por exemplo.

Por outro lado, ninguém pode ser 100% bom ou 100% mau. Se alguém erra, pode se arrepender, porque há algo bom nele, e aqui as emoções e maneira de pensar podem influenciar consideravelmente.

No caso em que os pais não conseguem fazer nada diretamente para combater o problema da rebeldia dos filhos, sempre será possível lutar interiormente por combater neles mesmos a tendência negativa – que pode dar-se em diversos graus – que os preocupa dos filhos, e oferecer a Deus sua luta como oração.

É sempre importante rezar por esse filho e confiar a Deus a solução.

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