Você já ouviu falar de tricotilomania? Provavelmente, não. Apesar de ser um transtorno pouco conhecido, ele afeta muito mais pessoas do que se imagina. Mas, como provoca vergonha a quem o pratica, é escondido até que se torne impossível de ser ignorado, ou que o indivíduo chegue ao seu limite de sofrimento e decida procurar ajuda. A tricotilomania é o impulso incontrolável de arrancar cabelos, fios de sobrancelha ou pelos de outras partes do corpo. É diagnosticada com mais frequência entre as mulheres, mas isso não significa que não atinja os homens, apenas que estes ainda resistem a buscar tratamento médico. Vale ressaltar que, na infância, o comportamento é observado tanto em meninas quanto nos meninos. Mas o hábito de arrancar pelos se instala pouco antes ou depois da puberdade.
A tricotilomania foi descrita e batizada em 1889, pelo médico francês François Henri Hallpeau, a partir de um paciente seu que puxava tufos de cabelo. Porém, o reconhecimento desse comportamento como representação de uma patologia só ocorreu no final do século 20. Mas o que leva um indivíduo a cometer contra si mesmo um ato que se assemelha à mutilação? As causas do transtorno continuam desconhecidas. Suspeita-se de origens genéticas e comportamentais, além de alterações nos níveis de serotonina e dopamina, que, se estiverem baixos, levam à depressão. E pessoas que sofrem de depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) têm mais possibilidade de desenvolver tricotilomania. O aspecto compulsivo pode ser acompanhado de outros comportamentos, como roer unhas (onicofagia), morder os lábios ou provocar outros ferimentos na própria pele.
Como percebido em outros comportamentos compulsivos (comer, beber, comprar, jogar, praticar atividade física, usar tecnologia em excesso, provocando prejuízos financeiros e de saúde), o ato traz alívio temporário de sensações desconfortáveis, estresse ou emoções negativas que o indivíduo experimenta. É como se fosse um desvio psicológico de um mal-estar que não se consegue enfrentar, ou mesmo reconhecer. Interessante observar que algumas pessoas escolhem os fios a serem puxados, como os fios brancos ou arrepiados, e outras são inconscientes do tipo a ser arrancado, agindo mais automaticamente. Outra particularidade é o que se faz dos fios: brinca-se com eles, às vezes, são mastigados, e, nos casos mais graves, há ingestão dos pelos, o que pode causar obstrução intestinal grave.
A manutenção da tricotilomania acontece pelos motivos que levam ao gesto: tensão, medos, estresse laboral, problemas nos estudos, dificuldades de relacionamento e de expressão das emoções não tratados levam à busca de uma válvula de escape para o incômodo, e o consolo temporário cria o hábito, que se repete sempre que se experimenta aflição. Como o ato em si não resolve o problema, tenta-se com ele apenas diminuir o sofrimento subjetivo. Pessoas que sofrem do transtorno experimentam grande embaraço e, por isso, podem se afastar de familiares e amigos e evitar eventos sociais, o que contribui para a piora do quadro. A boa notícia é que tricotilomania tem tratamento, e a psicoterapia é o caminho.
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