Por Diego Caroli Orcajo
Frequentemente ouvimos as pessoas contando que conheceram “alguém muito legal” via internet, alguém que por sinal mora muito longe. Não com menor frequência acompanhamos também o surgimento de grandes paixões à distância, paixões que costumam ter como único empecilho os quilômetros que separam o “casal apaixonado”.
E então, será que de fato o senhor destino coloca bem longe de nós aquelas pessoas que melhor se adequariam a nossos desejos? Não parece ser fácil contrariar tal tese, tendo em vista que todos nós já fomos vítimas de tal circunstância. Porém sem querer ser estraga prazeres (novamente), terei de dizer que as coisas não são bem como parecem.
Me parece extremamente prudente iniciar apresentando-lhes dois conceitos básicos, o efeito halo e o efeito horn:
– Efeito Halo é um processo no qual uma impressão inicial positiva faz com que nossa mente perceba com maior intensidade outras qualidades no indivíduo, inibindo a percepção de aspectos contrários àqueles que formaram a primeira impressão. “A avaliação positiva de uma parte resulta numa avaliação positiva do todo”.
– Efeito Horn é o contrário. Uma percepção inicial ruim faz com que percebamos com maior intensidade todos os aspectos que nos desagradam em um indivíduo, ignorando todo o restante. “A avaliação negativa de uma parte resulta numa avaliação negativa do todo”.
Pronto, o primeiro requisito para uma compreensão adequada do tema já foi fornecido. Agora em um segundo momento irei expor a parte que (em minha concepção) é mais a de maior importância, a questão da “idealização”.
Todos nós passamos a vida inteira idealizando. As relações todas surgem em companhia de diversas idealizações acerca do indivíduo até então desconhecido.
E como é que a idealização pode vir a explicar tal circunstância? Acreditem, é mais simples do que parece.
Cada nova pessoa com a qual nos deparamos (seja por via de recursos virtuais ou presenciais) recebe uma carga de idealização. Se espero criar laços de amizade posso idealizar que ela é extremamente confiável, companheira e assim por diante. Quando a ligação é de viés amoroso, acabamos por idealizar na pessoa tudo aquilo que desejaríamos de uma “namorada perfeita”, por exemplo.
Até aqui tudo bem, deu para entender bastante coisa porém ainda não foi explicada a diferença entre as idealizações construídas acerca de interações presenciais se comparadas às virtuais (à distância), ou seja, tudo o que foi explicado é real, porém cabe tanto em um caso quanto em outro.
Oras, como é que uma idealização vai se desconstruindo? Por meio da interação real com esta pessoa oras, nada melhor do que o choque de realidade para nos mostrar que as coisas não são tão boas (ou ruins) quanto parecem.
Então ok, o efeito halo ocorre em qualquer forma de interação, porém com a diferença crucial de que em interações à distância ficamos muito mais vulneráveis às impressões que confirmam nossas fantasias (e pouco confrontados com a realidade – que via de regra iria nos fazer notar que a pessoa não é bem o que esperamos) .
Com tudo que foi exposto creio que já possam responder sem pestanejar: “Por que as pessoas mais interessantes moram longe?”. Pelo simples fato de que a distância reduz muito a possibilidade de que a convivência real destrua tais fantasias. Então a pessoa “que mora longe” – da qual tanto gostamos – tecnicamente “não existe” e estamos apaixonados por uma construção de nossa fantasia? Mil perdões, a resposta é sim!
Diego Caroli Orcajo, 23 anos. Estuda psicologia na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro.
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