Hoje, após uma longa conversa com duas amigas na faculdade, voltei para casa com essa quase certeza, a de que, lamentavelmente, somos mais descartáveis do que um par de sandálias que compramos na feira da esquina. Não, não estou me referindo à nossa indiscutível fragilidade diante desse planeta extraordinário. Trato aqui sobre a nossa condição descartável nos contextos relacionais. Não sei, ao certo, se essa é uma tendência contemporânea, ou se sempre foi assim. Mas, carrego comigo a sensação de que, no passado, as pessoas eram mais apreciadas, respeitadas ou consideradas.
Sendo mais direta, já perceberam a rapidez com que as pessoas são substituídas? Não existe mais aquela história de dar um tempo para colocar as emoções em ordem quando um relacionamento acaba. Calma, leitor(a), não me refiro à uma paquera ou uma “ficada” qualquer, falo de casamentos de décadas que são desfeitos e, na semana seguinte, um dos que compunha aquele ex casal, ou ambos, já está assumindo aos quatro ventos, um novo relacionamento nas redes sociais. Expressões como “minha vida”, “alma gêmea” e “amor eterno” são pronunciadas e compartilhadas com tanta desenvoltura que chegam a constranger os amigos e os familiares do ex casal.
Parece não haver o mínimo de respeito pela imagem do(a) ex, é como se, de uma hora para outra, a história que viveram fosse reduzida à uma fumaça que se dissipou no ar. Pouco importa o sentimento dos filhos, pouco importa se o(a) ex está em sofrimento pela ruptura da relação, o que importa mesmo é mostrar ao mundo que está “amando” e que a “fila andou”. Mas que amor é esse, tão instantâneo, se na semana passada estava se declarando para outra pessoa nas redes sociais e a atmosfera que envolvia o ex casal parecia digna desses filmes açucarados que passa na sessão da tarde? É impressionante a capacidade ultra rápida que o ser humano contemporâneo adquiriu para amar e deixar de amar. É tudo 8 ou 80, ou seja, ou é amor para incendiar tudo ou é gelo total para quem, apesar das dificuldades da convivência, agregou muito na vida do outro.
Basicamente, funciona assim: hoje você é o amor da vida de alguém, mas na semana que vem, você corre o risco de se resumir a um contato bloqueado, algo descartado que não merece a mínima consideração. Ah, e as redes sociais, que foram o palco para as demonstrações do amor efervescente e eterno, se transformarão no cenário perfeito para destilar o rancor e o veneno destinados à(ao) ex. E é tão deplorável assistirmos a esse espetáculo vergonhoso. É praticamente impossível não sentirmos a vergonha alheia nessas horas. Homens ou mulheres supostamente maduros(ao menos cronologicamente), ofendendo e expondo o(a) ex parceiro(a), trazendo à tona aquilo que era para ser tratado em reservado, ridicularizando aquele(a) que um dia foi o “príncipe” ou a “princesa”.
Tudo bem, desde que o mundo é mundo, os relacionamentos são desfeitos e essa tendência está cada vez mais crescente. Mas qual a necessidade de provar para todos que já superou o relacionamento anterior? Seria uma maquiagem, uma forma de mascarar uma provável ferida que ficou? E por que tanta necessidade de ferir e ridicularizar aquele(a) com o(a) qual compartilhou a vida, os sonhos e os projetos, ainda que tenha sido por um curto período? O que esconde essa ânsia de se vingar e de se mostrar imune às dores que são inerentes a qualquer ruptura relacional? Independente das motivações que levaram ao término do relacionamento, acredito que caberia o mínimo de respeito e consideração, até porque o respeito é aquela roupa que veste bem a qualquer corpo, ele sempre será bem vindo, sempre será bonito…ele nunca sairá de moda.
Diante de tudo isso, eu desenvolvi uma percepção diferenciada. Especialmente, nas redes sociais, tenho tido muitas amostras de que, quanto maior a exposição e a necessidade de impressionar com um “romance dos sonhos”, maior a fragilidade e vulnerabilidade dessa relação. E, muito provavelmente, existe, nos bastidores, uma bagunça emocional oriunda da ruptura da relação anterior, que por imaturidade ou orgulho a pessoa entende que não deve esperar um tempo para por a casa interna em ordem para, no momento oportuno, relacionar-se novamente sem a necessidade de alfinetar o tempo todo aquele(a) que um dia foi o(a) parceiro(a) Como dizia minha saudosa avó materna: quando você ouvir muita trovoada, é sinal de pouca chuva.
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