Infelizmente, existem sujeitos que se incomodam com as demonstrações públicas de afetos e têm aqueles que as encaram como atos pecaminosos, que devem ser proibidas em público. Eles acreditam que isso é “feio”, porque suas histórias de vidas e crenças são limitantes e não aceitam a exposição de afetos.
Estamos falando de demonstrações de afetos como uma forma de expressar um carinho. É explicitar o afeto através de um gesto gentil, que pode ser um carinho na cabeça, um beijinho na testa, um abraço, entre outros afagos discretos.
Mas os incômodos, que muitas pessoas sentem diante desses gestos, podem ter a sua origem em uma norma social aprendida e no conflito psíquico. Uma repressão que exerce sobre elas, que está inserida de modo simbólico na estrutura social, que coíbe as manifestações de afetos, sobretudo, em público.
Os incômodos crescem ainda mais quando alguém enfrenta a vigilância dos pensamentos e dos afetos, pois os afagos assustam e fazem os seres humanos refletirem sobre como lidam com sua afetividade. Aliás, começam a questionar como a coerção entrou na mente e como anseios pela censura dominam o corpo.
Um exemplo intrigante: grandes amigos se reuniram para um longo e afetuoso abraço em vias públicas de várias cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York e Beijing. Porém, quem assistia essa troca de carinho em público mostrou expressão de espanto, acanhamento e admiração.
Foi o que registrou o ensaio do fotógrafo Calé Azad, publicado em livro. Calé ficou impressionado como um abraço pode gerar constrangimentos. A resposta pode estar em nossas relações de poder e de violência simbólica, que impõem aos indivíduos que abraçar em público não é “certo”.
Observamos nessas fotos, que as manifestações de afetos produzem mais ameaça do que os atos de violência urbana, tão banais em nosso cotidiano. Demonstrando que as pessoas estão desacostumadas com os gestos de carinho.
O que também é assustador perceber que têm indivíduos que não toleram ver um casal homoafetivo de mãos dadas em público, onde surgem olhares de reprovação e xingamentos, podendo vir à tona atitudes violentas.
O “entulho” que restou da nossa cultura patriarcal insiste em moldar comportamentos para reprimir as pessoas, sejam remediadas ou abastadas, que manifestam sua afetividade em escolas, universidades, igrejas, centros comerciais, repartições, bares e demais lugares de frequência pública.
No entanto, a repressão física e psicológica contra as demonstrações de afetos pode ser desconstruída, através da cura do preconceito culturalmente adquirido. Assim, a tolerância ou respeito aos gestos de afetos expressam uma multiplicação natural disso e ajuda a criar um mundo mais fraterno, evoluindo em nossos corações a cordialidade, que permitirá a expansão das conexões sadias de afetos.
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Imagem de capa: Calé Azad