“Não procure alguém que te complete. Complete a si mesmo e procure alguém que te transborde.” (Clarice Lispector)

Todos dizem que morreriam por amor, mas quantos são capazes de viver por amor? Sim, porque morrer é uma projeção abstrata de um futuro distante do que se tem agora, do viver hoje. Temos necessidades urgentes – dentre elas, a de amar e ser amado – e que precisam ser supridas desde ontem, ainda hoje e para sempre, sem esse papo de deixar para mais tarde, para depois ou para amanhã. Fácil ficarmos planejando e idealizando um futuro hipotético, enquanto deixamos de enfrentar o que existe ao nosso redor nesse instante.

A pressa insana a que nos entregamos, em meio a jornadas de trabalho estendidas e extenuantes, visando a aquisições materiais, a um consumismo que nos preencha os vazios de felicidade, acaba por nos tornar menos calorosos, absurdamente distantes do contato e da interação com o outro. Preenchemos nossas vidas com objetos de valor e conforto material, ao passo que negligenciamos nossas carências mais íntimas, relegando nossos sentimentos a um segundo plano.

Rodeados de bugigangas tecnológicas e de objetos suntuosos, vivemos vidas vazias, frias e solitárias, uma vez que nos rodeamos de pessoas que foram atraídas tão somente pelas aparências, sob interesses superficiais, arquitetados, isentos de afetividade e de admiração sincera. E, então, lá vamos nós inutilmente suprir essa carência sentimental insaciável com encontros descompromissados, alucinógenos, ansiolíticos, conversas virtuais – mas temos fome é de amor de verdade!

É preciso ouvir essa voz que clama lá do fundo de nossos corações, pulsando desejos, acendendo paixões, acelerando nossos sentidos, pedindo amor verdadeiro, entrega intensa e contato entre corpos suados. Não podemos nos lançar integralmente àquilo que nos rodeará apenas externamente, confortando não mais do que nossa visão e nosso cansaço físico, pois nossa essência alimenta-se de trocas verdadeiras de sentimentos e de emoções. Nossa necessidade de amor é diária, intermitente, urgente.

É necessário gastar considerável quantidade de tempo nos conhecendo, ouvindo tudo o que temos dentro de nós, para que estejamos seguros daquilo que somos e de quem queremos em nossas vidas – e como queremos. Somente assim estaremos prontos a ultrapassar os limites da materialidade fria do mundo ao redor, preenchendo nossa essência enquanto nos encontramos na inteireza de um outro que nos venha acrescentar, enriquecer, transbordar. Não negligenciemos nossos sentidos, nossa carência afetiva, porque amor finca raízes no que é intensamente real e verdadeiro. Porque amor não tolera disparate, exclusão, miudeza.

Enfim, não esperemos que outro traga o que nos falta, mas sim que torne ainda mais especial o que já possuímos dentro de nós. Amor não preenche, extrapola. Amar é para ontem!

Imagem de capa: Ladanivskyy Oleksandr/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

11 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

20 horas ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

21 horas ago

Marcelo Rubens Paiva fala sobre Fernanda Torres no Oscar: “Se ganhar, será um milagre”

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…

2 dias ago

Série que acaba de estrear causa comoção entre os assinantes da Netflix: “Me acabei de chorar”

A produção, que conta com 8 episódios primorosos, já é uma das 10 mais vistas…

2 dias ago

Além de ‘Ainda Estou Aqui’: Fernanda Torres brilha em outro filme de Walter Salles que está na Netflix

A Abracine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considera este um dos 50 melhores filmes…

2 dias ago