Imagem de capa: Melpomene/shutterstock
Por vício, continuaria a esperar por uma novidade, sonhar com uma surpresa, imaginar uma súbita emoção batendo à porta e me convidando para a festa que não tem fim.
A gente vicia em imaginar. E detalhar. E apostar que um dia vai acontecer. Pode acontecer de fato, mas não por conta das apostas, nem por tudo o que já foi feito de moeda de troca.
Apostar o próprio tempo, deixar que seja usado e controlado, contido e descartado, pode ser perigoso. Apostar esperanças, ainda que as probabilidades aconselhem o contrário. Apostar lances perdidos. Em mãos e conteúdos vazios…
A gente aposta pela emoção que pode ser o prêmio.
E repete: só mais essa vez, só mais essa vez. Agora vai!
A sorte fica com toda a responsabilidade de criar e rechear as situações. Se nada acontecer, não foi um dia de sorte.
E a gente senta com as fichas em montinhos e vai se esvaziando, minguando, esperando a sorte chegar.
Mas a sorte é dinâmica, gosta de movimento. A sorte não cai em colo conformado. A sorte corre atrás de quem corre ao seu encontro, com a mãos livres, sem fichas para carregar.
E por vício, aposta-se a própria liberdade, tentando a sorte de quem a queira para controlar. Por vício, o futuro vira garantia, caso a aposta seja perdedora.
A vida não aposta nada. Não senta de frente com a gente disposta a tomar o que temos. Nós entregamos por vontade e por vício. Ao contrário, a vida sempre nos oferece algo, mas, por vício, preferimos apostar que não.
Hoje, eu passo. De agora em diante, não aposto mais com a vida. Aposto contra a covardia que tenta me paralisar e me colocar diante de jogadores preguiçosos e indiferentes, que também apostam somente por vício.