Fiquei com receio de escrever a respeito, quando soube da escola de princesas que chegou em Belo Horizonte. Já chegou causando polêmica ao responder via Facebook que meninos não podem participar, nem se eles quiserem muito. Ué.
“Ah, mas qual o seu problema com a escola de princesas? Sua filha não ama princesas?”. Bom, minha filha ama princesas, não vou negar. Mas aqui a gente assiste Coragem, o cão covarde. Amamos os personagens de Guardiões da Galáxia. Gumball. A hora da Aventura (que tem a princesa Jujuba que é incrível). Piramos na princesa Merida, que é fora do padrão de princesas Disney e luta pela sua individualidade, sem aceitar se casar por obrigação. Outra princesa que é muito citada por aqui é a Mulan. Nem preciso dizer que ela vai pra guerra defender o pai idoso e luta bravamente pelo seu país. A Fiona sabe lutar, se casa com quem ela escolhe e é uma ogra. Opção não falta para deixar de lado o estereótipo Princesa/sofredora/a espera de um príncipe/querendo salvação.
A escola de princesas já passa a ideia de formar meninas delicadas, do jeitinho que o patriarcado adora. A insistência em dizer que as meninas são princesas só reforça a ideia do sexo frágil, de que existem coisas e atitudes específicas para cada gênero, e isso não é verdade. Uma pena é que as famílias e a sociedade condicionam as coisas como “de menino” e “de menina”. Um exemplo: a menina usa rosa não só por gostar da cor, mas, por que a cor “dos meninos” é azul.
O engraçado é que hoje em dia vemos mulheres ocupando diversos cargos que já foram exclusivamente masculinos. O que devemos nos questionar é: fixar essas características de gênero é uma atitude justa e sensata? Obrigar as meninas a seguirem um currículo definido como feminino é justo? E se a princesa quiser jogar futebol? Será que ela e as amiguinhas vão encarar isso como natural? Ela terá de se privar desses prazeres por ser menina? Futuramente isso irá prejudicar em sua formação. Ela poderá se transformar em uma mulher objeto, abjeta de opiniões e, até mesmo, frígida. Complicado.
“Feche as pernas, menina! Não senta assim. Menina não fala palavrão, menina não beija, assim você não arruma namorado! Quem quer uma mulher que curte futebol? Isso é pra chamar a atenção. Mulher que é Mulher sabe cozinhar e cuidar da casa.” Bobagem. Mas, é tudo isso que ensinam para as meninas. E ser diferente, significa que você não é uma princesa.
Adultos têm a preocupação de que as meninas sejam meninas e meninos sejam meninos. A verdade é que criança é criança e criança precisa brincar. Quem a preocupa com isso são os adultos que não querem crianças, querem miniadultos. Por que, né, em pleno 2015, inauguram uma escola que ensina a “se portar”, estética, matrimônio e afazeres domésticos. Isso não te soa sexista?
Independente do que os pais quiserem, a criança tem que se descobrir. Precisa ver o mundo fora da bolha cor de rosa com barbies ou bolha azul com carrinhos. Meninos e meninas podem e devem brincar com o que quiserem.
E essa ideia de divisão de gêneros, tarefas e gostos influencia os meninos também. O menino cresce solto, pode fazer o que quiser. E fazer o que quiser implica em dominar uma menina/mulher numa relação injusta de poder em que ela, tadinha, é Princesa… E princesa pode sair dos moldes de princesa? Ela pode lutar pelos seus direitos? Ela pode se impôr? A gente aprendeu que ser princesa é ser delicada e super certinha… queremos realmente reforçar isso?
Acredito que exista a intenção de afirmar o papel da mulher na sociedade. Como mãe, dona de casa, como dama.
E quem foi que delimitou que somos apenas isso? Que ser mulher é ser x coisa?
Isso é horrível, é colocar na cabeça das nossas meninas que elas não podem ser nada além disso, que o papel delas não passa dali. É delimitar os seus sentimentos e vontades, é podar a imaginação. É padronizar.
Tornar uma menina princesa soa cruel. Não que seja errado, caso ela queira ser princesa, sabe? Mas acho que essa escola ensina que elas só podem ser isso. E meninas podem ser princesas, astronautas, mecânicas… podem ser o que bem entenderem.
Nós podemos ser tudo e muito mais, pelo simples fato de sermos mulheres e podermos fazer o que quisermos. E acho que é isso que devemos ensinar para nossas meninas, não essa coisa boçal de ser princesa, com etiqueta, bons modos e falar até sobre matrimônio com… crianças!
Conheci uma menina que andava vestida que nem “menino” durante um bom tempo da infância até o inicio da pré-adolescência além de gostar de andar de skate e viver toda ralada (sdds época da Avril Lavigne). Mas, ao mesmo tempo, ela sempre gostou de cozinhar e fazer roupas pras as bonecas. Hoje ela é uma mulher que não anda sem maquiagem, mas que adora esportes radicais, porque não precisa se encaixar em padrão nenhum. Esse é um bom exemplo de que não existe preto no branco, personalidades são cinzas e formadas de experiências únicas.
Meninas podem ser o que quiserem. Meninos também.
Deixem as meninas serem crianças! Mas se for a princesa Lea, podemos considerar essa possibilidade. 🙂