Ah, que delícia ouvir um elogio, uma boa coisa dita a respeito do que a gente é, ou pensa que é, ou se esforça para ser.
Sem dúvida, um prazer imenso, um carinho, um conforto incrível. Ser aceito, se parte integrante, se destacar, ser revelado…
Mas, e se nada disso acontecer, de onde virá o alimento, a massagem, a confirmação das qualidades? Num mundo de tantas competições e engodos, como fazer para sustentar certezas mínimas, demarcar um espaço próprio, uma identidade válida, sem o aval alheio, sem o espelho que revela e compara?
Ainda pior, com a mesma intensidade que nos chega uma manifestação de orgulho, também pode vir uma humilhação, uma ofensa, uma calúnia, ou simplesmente uma verdade que ainda não se está preparado para digerir. E o efeito contrário vem com tudo, desmantelando, desorganizando, desestruturando toda uma construção erguida a duras penas, frágil e impotente por depender do sustento alheio.
Valorizar-se não é inchar e se vangloriar de qualidades, nem tampouco lacrar os ouvidos e o entendimento às críticas e julgamentos.
Valorizar-se é construir um teto firme para a alma, que a proteja das chuvas de injustiças e também dos ventos traiçoeiros das adulações. Valorizar-se é descobrir o valor que se possui e não permitir negociação abaixo, nem sob a maquiagem da ilusão vaidosa.
Não acreditar em tudo o que é dito a seu respeito, não se contaminar com o veneno lançado, não se viciar em promessas de beleza e perfeição.
Ao contrário, conhecer e muito bem suas limitações, imperfeições e fraquezas, e, ainda assim, se respeitar e entender a necessidade tantas vezes ignorante e tola de querer ver-se por outros olhos, outro olhar.
Essencial é viver e conviver com os afins, os diferentes, os afetos, os obrigatórios, os superiores, os dependentes, enfim, com o mundo onde se habita.
Essencial é garantir respeito e respeitar como garantia e compromisso de reciprocidade.
Essencial é transformar um comentário idiota em poeira que o vento leva, guardar na memória uma palavra amiga, um conselho de quem nos quer bem.
Ainda que se diga o contrário, ainda que se demonstre em exagero, ainda que o espelho esteja turvo e os apelos de fora gritem forte, vital é descobrir, proteger, fazer crescer e compartilhar o próprio valor. Fora disso, tudo é ruído.