Posso te dar um beijo?

Acredito que a grande maioria de nós já leu o trechinho de Peter Pan no qual Wendy lhe dá um dedal no lugar de um beijo. A história parece feita apenas para crianças, mas assim como Peter, no decorrer da vida, a gente ganha muitos dedais no lugar de beijos. Você pode estar um pouco confuso com isso (até mesmo com os bolsos cheios de dedais sem perceber), mas não se assuste, é que em muitas situações acabamos aprendendo de forma distorcida o significado das coisas.

Ok. Vamos falar de amor, afinal o beijo indica esse caminho. O amor, dentre outras coisas, é definido como um sentimento de grande afeição de uma pessoa a outra. Mas na prática o que isso significa? Significa que assim como Peter disse sobre o beijo “só vou saber depois que você me der um”, você só vai conhecer o amor se o viver de verdade.

Em relacionamentos disfuncionais e abusivos qualquer ideia acerca do amor pode ser facilmente distorcida. Neles o ciúme é confundido com amor, a carência com apreço e a posse com cuidado. Todo tipo de estranheza em relacionamentos assim pode ser classificada como amor e muitas vezes não desconfiamos que isso não confere. É que enquanto a gente não for beijado de verdade, enquanto a gente não for amado de verdade, a gente pode aceitar qualquer coisa no lugar do amor.

Para piorar, analisando a história de Peter, a gente acaba notando que o menino acabou firmando um compromisso sem saber. Eu explico. O dedal durante muito tempo foi tomado como um objeto que indicava um tipo de compromisso sério entre um casal, algo como uma aliança. Sem querer “querendo” Peter ganhou não um beijo, mas um tipo de aliança. O mesmo pode acontecer conosco. De repente a gente firma não um, mas inúmeros pactos inconscientes com um outro e acaba pagando caro por isso. De repente a gente se prende a uma situação angustiante e abusiva sem entender como foi parar ali.

É que fica mais fácil entrar em relações abusivas quando aprendemos de forma distorcida o que é amor. Quando vivemos uma realidade disfuncional. Quando acreditamos piamente em quem não tem crédito. Sem as vivências afetivas necessárias a gente compra gato por lebre fácil. Mas há sempre um dia em nossas vidas, um bendito dia, em que alguém nos dá um beijo de verdade. A partir desse dia sublime e memorável nenhum dedal será páreo para um beijo real. Daí a gente entende o verdadeiro significado das coisas e percebe que o que antes parecia perfeito era muito raso para nós.

Eu desejo milhares de beijos estalados para cada um de vocês. Eu desejo que vocês vivam o real sentido das coisas com pessoas boas e sinceras. Eu desejo amadurecimento, boas experiências e muito, mas muito amor. Pois só o amor verdadeiro ensina o que a gente passa grande parte da vida acreditando já saber.

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Atribuição da imagem: unsplash.com – CC0 Public Domain







Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.